Mola de grande parte da emigração portuguesa na segunda metade do século XX, a construção civil vive hoje em Portugal um cenário com horizontes que fazem temer pelo seu futuro, disse à Lusa o presidente do Sindicato de Construção de Portugal, Albano Ribeiro.

Argumentando que o setor "está envelhecido" porque "não há gente nova a chegar à profissão", o sindicalista teme que no prazo de uma década "a qualidade do se vai fazer em Portugal seja penalizada", explicando serem hoje em dia os trabalhadores "com mais de 55 anos" aqueles que estão a garantir a boa construção.

"O Instituto do Emprego e Formação Profissional deveria repensar a questão da formação profissional", disse, defendendo que as primeiras noções sobre a profissão "deveriam surgir no primeiro ciclo" escolar, sendo mais tarde complementadas em escolas técnicas.

O presidente da Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas e Serviços (AECOPS), Ricardo Pedrosa Gomes, partilha da opinião sobre o desinteresse dos jovens que vêm a profissão "como um último recurso e não como uma carreira".

"O setor da construção perdeu atratividade porque a remuneração, superior à de outras atividades económicas, como a restauração e a hotelaria, não compensa, face a essas outras atividades, a referida exigência física e mobilidade geográfica inerentes ao setor", explicou.

Ricardo Pedrosa Gomes admitiu o recurso a trabalhadores imigrantes no espaço de uma década pelo desinteresse dos portugueses em voltar ao país e defendeu que a "quantidade necessária de trabalhadores poderá e deverá ser reduzida" através do recurso a "novos métodos construtivos, com maior utilização de tecnologias digitais e de novos materiais".

Em contraponto, no turismo e na restauração o apelo funciona, há muitos cursos a formar jovens mas, uma vez no mercado de trabalho, a realidade "é muito difícil de suportar", explica o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, Francisco Figueiredo.

"Apesar de haver cada vez mais gente a querer trabalhar no setor, nunca como hoje as condições foram tão más", disse à Lusa o sindicalista, afirmando que jovens "deixam de ter vida familiar e pessoal porque, por exemplo, em alguns hotéis, os horários são fixados semanalmente".

Essa imprevisibilidade nos horários da restauração, por exemplo, "faz com que a regra geral seja dez horas de trabalho", o que se traduz em que "ninguém esteja a cumprir a tabela salarial", acusou o sindicalista.

Reconhecendo o problema da imprevisibilidade de horários e de manutenção dos jovens, a Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT) entende que "uma maior procura por cursos profissionais do setor não significa necessariamente que exista essa escolha profissional".

Segundo o diretor executivo, António Condé Pinto, as escolas "oferecem muitas oportunidades no estrangeiro e, cada vez mais, os jovens optam por aproveitar essas oportunidades", num conflito de interesses onde também entra o autoemprego, que "agrava ainda mais a ‘falta de pessoal' sentida".

Considerando não existir uma "solução única para o problema", para o responsável "o setor terá de aprender a trabalhar desta forma", com cada empresa, conforme as circunstâncias, a ter de "procurar a melhor solução para o seu negócio".

A simplificação dos serviços, menos horas de funcionamento e flexibilidade dos horários de trabalho foram soluções apontadas pelo dirigente associativo.