Voltamos a um tema que é sempre quente no universo-startup: o da linguagem. Já o tínhamos abordado anteriormente, mas isto é o que se diz dar pano para mangas. Por isso mesmo, a Startup Portugal fez mais um levantamento de palavras de que usamos e abusamos para falar de algumas coisas que não são assim tão difíceis de entender, mesmo que nem sempre pareçam fáceis de explicar.

Equity

Este é um termo muito usado nas startups, até porque comumente é uma forma de valorizar os contratos dos primeiros trabalhadores destas empresas — ou seja, além de um ordenado e de um estilo de vida “cool”, algumas startups atiram para a mesa de negociações a palavra “equity”. Equity quer dizer, no fundo, percentagem da empresa, sendo que quem detém a dita cuja é um sócio da mesma. No caso acima mencionado, ter “equity” quer dizer que o trabalhador passa a ser também um sócio da empresa, tendo uma percentagem desta (normalmente simbólica), e sendo também um investidor, através do seu trabalho. Se compensa? Depende inteiramente de como são feitas as Exits (vemos lá em baixo), ou dos lucros da empresa, mas muitos dos colaboradores iniciais do Facebook são agora milionários à conta desta brincadeira. Também é comum que a empresa, fazendo o balanço final do ano, distribua parte dos seus lucros por quem detém capital. É a maneira da startup dizer que acredita no trabalhador se este acreditar nela. É salto de fé que pode ter ótimos resultados.

Exit

O exit é um termo muito falado, principalmente quando a discussão passa por investidores. Não se trata de nada muito dramático, ao contrário do que a palavra homóloga portuguesa (saída) pode transparecer, mas resume-se ao simples processo de se passar a parte da empresa que se detém para outrem. É uma métrica importante para os fundos de investimentos e associações de capital de risco, porque é uma das formas de rentabilizar as aquisições feitas e o dinheiro injetado em determinados negócios. Olhando, a título de exemplo, a página da Armilar Venture Partners, um fundo português, na primeira página indicam logo ter feito 18 exits, 3 dos quais em IPO (lá iremos); isto é, 18 dos seus investimentos resultaram na venda do capital que o fundo detinha da empresa para outra entidade — e a norma dita que estas “exits” sejam feitas por um valor superior da entrada para o capital da empresa. Se há lucro, há saúde.

De salientar que uma exit também pode ter um lado menos glamouroso, quando se refere à dissolução da mesma ou à declaração de insolvência.

IPO

Diluir capital é algo que vai acontecendo ao longo da vida de uma empresa, seja próprio, seja de acionistas, seja de sócios, e é uma das estratégias mais comuns para financiar um negócio. Os sócios-gerentes abdicam de parte do capital da empresa em troca de financiamento, usando esse dinheiro para fazer o negócio crescer. A forma de diluir capital e de investimento mais badalada é a dita IPO (Initial Public Offering), que em bom português se diz Oferta Pública Inicial, vulgo entrar em bolsa. Ou seja, é quando a empresa disponibiliza ações ao público em geral, algo que normalmente acontece em bolsa, tornando-se numa empresa de capital aberto.

Há que ter em conta que nem todas as empresas podem ir para bolsa por “dá cá aquela palha”. Cada bolsa tem as suas regras, não só relativamente à avaliação da empresa, mas também em relação à sua dimensão e estrutura. Por exemplo, para se entrar em Wall Street, a empresa tem de ter uma avaliação que permita lançar 40 milhões de dólares no mercado, ao preço mínimo de 4 dólares por ação. Já a Euronext, em que se insere a bolsa de Lisboa, exige um mínimo de 25% do capital, ou 5% equivalentes a cinco milhões de euros. A estas regras acrescem comissões de admissão, esforço de colocação em redes bancárias, e um grande apoio jurídico, por isso não é, mesmo, para qualquer empresa.

Fablab

Muitas vezes confundidos com incubadoras, o FabLab, contração de “fabrication laboratory” ou “laboratório de fabrico” é o paraíso do fazedor, ou do inventor. É uma oficina, normalmente pequena, para incubar ideias, mas, mais importante ainda, para desenvolver e testar hardware, dotado, claro, de todo o equipamento necessário para fazer isso acontecer. É o local de trabalho (e recreio), por excelência, dos fazedores.

Fazedor

Nem todo o fazedor é um empreendedor, e nem todo o empreendedor é um fazedor. Os termos, não sendo mutuamente exclusivos, podem existir como referência às mesmas pessoas. Um fazedor é tangente a um inventor, alguém que procura criar novos produtos de raiz, ou alterar produtos existentes no sentido de lhes atribuir novas utilizações, ou simplesmente de os melhorar. É, também, uma noção análoga à do hacker, que faz o mesmo tipo de melhoramentos em software. O empreendedor, já sabemos bem, é alguém que faz, certo, mas com o coração e a cabeça nos negócios. Alguém que seja ambos é um ser muito singular, mas não é uma figura comum. No nosso ecossistema, temos o exemplo de Verónica Orvalho, engenheira e fundadora da Didimo (que completou recentemente uma ronda de investimento no valor de 1 milhão de euros) e principal mente por detrás do produto da empresa; ou mesmo da Carolina Amorim, engenheira biomédica que desenvolveu a banda que lê ondas cerebrais e que tornou o produto num negócio ao criar a Emot.ai (depois de fazer um ano de Startup Voucher).

Um caminho comum para um fazedor é o das patentes, ficando com exclusividade sobre o uso do produto e tendo capacidade de o rentabilizar pela venda da mesma, ou através de licenciamentos.