Em conferência de imprensa, Sérgio Sales, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE Norte), explicou que em causa está a decisão da empresa de não contabilizar as horas noturnas para efeito do cálculo da retribuição a pagar aos trabalhadores.
"Os trabalhadores foram para ‘lay-off' com a expectativa de receberem 66% do salário, mas a verdade é que, com esta decisão, alguns nem sequer chegarão aos 50%”, criticou.
Contactada pela Lusa, a empresa referiu que a contabilização das horas de trabalho para efeitos de pagamento em regime de ‘lay-off' simplificado "é efetuada conforme indicação da Segurança Social, quer através do guia prático disponibilizado para o efeito, quer pela indicação direta da própria entidade, quando questionada sobre este assunto".
"Nesse sentido, a Bosch Car Multimedia, assim como qualquer outra empresa no mesmo regime, cumpre as disposições legais e os procedimentos formais às quais está obrigada, não havendo base legal para proceder de outro modo", acrescentou.
Disse ainda que todos os colaboradores "foram informados e esclarecidos sobre esta situação, antecipadamente".
Sérgio Sales contrapõe que "a lei determina o pagamento da retribuição normal ilíquida, para a qual devem entrar todas as rubricas que o trabalhador normalmente receberia se estivesse a trabalhar".
"A empresa desculpa-se com a Segurança Social que, na verdade, não entra na relação com o trabalhador. O apoio è concedido à empresa e não aos trabalhadores, e é à empresa que cabe pagar a retribuição dos seus trabalhadores", referiu.
O sindicato estima que, com a retirada das horas noturnas, os trabalhadores terão um prejuízo que oscila entre os 20 e os 300 euros, dependendo do turno, do horário e do vencimento.
Sérgio Sales diz que a medida poderá afetar mais de um milhar de trabalhadores.
Vinca ainda que, desta forma, a empresa "consegue baixar o valor dos 30% que teria de pagar".
Para o SITE-Norte, este comportamento é "irregular e inaceitável", sobretudo por se tratar de uma multinacional "com um recorde de vendas crescente em cada ano" e que "constantemente recebe apoios estatais, benefícios fiscais e fundos comunitários para manutenção e criação de postos de trabalho".
"Fica, assim, claro que a opção foi colocar os trabalhadores a pagar mais uma crise, seja com as suas contribuições para a Segurança Social, seja pelo corte de um terço da retribuição, ao que acresce este surripiar ao ‘lay-off'", refere um comunicado do sindicato.
Sérgio Sales disse que em causa está o "esmifrar" dos trabalhadores, sublinhando que o sindicato "irá até onde for preciso" para obrigar a administração a reverter a situação.
A fábrica de Braga da multinacional alemã Bosch emprega cerca de 3.500 trabalhadores, que estiveram em ‘lay-off' desde 30 de abril e por um período de 11 dias.
A administração justificou a medida com a redução de 50% das encomendas e de 78% no volume de vendas.
Anteriormente, os trabalhadores já tinham sido mandados de férias durante 15 dias.
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