“Nos cinco anos em que estive neste cargo, Portugal tem sido uma clara história de sucesso em termos económicos: tenho observado uma forte recuperação e crescimento, forte criação de emprego e uma melhoria impressionante das finanças públicas”, afirmou Pierre Moscovici em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, que será publicada na íntegra na quarta-feira.
Recordando o percurso do país neste período em que esteve à frente da pasta dos Assuntos Económicos e Financeiros, o responsável francês garantiu estar “confiante em Portugal”, apesar de se mostrar “vigilante” em relação a outras economias da zona euro.
Isto porque, em Portugal, “apesar de alguma moderação, o crescimento económico tem-se mantido sólido e é hoje mais sustentado por uma forte criação de postos de trabalho”, precisou o comissário europeu.
“Em segundo lugar, o alto valor de défice orçamental foi reduzido ainda mais do que previsto para 0,4% do PIB em 2019 e [deverá atingir] 0,1% em 2020 [segundo as previsões da Comissão Europeia]. A dívida pública deverá acompanhar esta redução e, por isso, o desempenho das finanças públicas de Portugal é impressionante”, acrescentou Pierre Moscovici.
O responsável destacou ainda que “os bancos portugueses fizeram progressos importantes na redução dos NPL [‘non-performing loans’, o crédito malparado]” e que “a perspetiva [do ‘rating’] a curto prazo também continua favorável, apesar dos riscos decorrentes de fatores externos terem aumentado”.
A entrevista à Lusa foi, inclusive, feita no dia em que a Comissão Europeia divulgou o seu mais recente relatório pós-programa de assistência a Portugal, que Pierre Moscovici vai apresentar na reunião do Eurogrupo de quarta-feira aos ministros das Finanças da zona euro.
No documento, Bruxelas reconhece os progressos feitos por Portugal, mas alerta para pressões crescentes na despesa pública com salários devido ao descongelamento das carreiras, ao crescimento da força de trabalho no Estado e aos aumentos nas pensões.
O relatório – divulgado na sequência da décima missão de acompanhamento pós-programa, que decorreu entre 14 e 19 de junho passado, em Lisboa – indica também que a qualidade dos ativos bancários melhorou e foi notória em 2018 a redução do malparado, ajudada sobretudo pelas vendas pelos bancos de carteira de empréstimos em incumprimento (seis mil milhões de euros em 2018).
No mercado de trabalho, a Comissão Europeia considera ainda que, apesar da evolução positiva, a precariedade é “persistentemente elevada” e manifestou dúvidas quanto ao impacto das alterações laborais no crescimento do emprego.
“São necessários mais esforços para captar investimento, para aumentar a produtividade e para promover o ambiente de negócios, fatores que são cruciais para [o país] se fortalecer e crescer”, sintetizou Pierre Moscovici na entrevista à Lusa.
Antigo ministro francês das Finanças, Pierre Moscovici está prestes a terminar o mandato de comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, cargo que assumiu em 2014, dado não fazer parte do novo executivo comunitário liderado pela francesa Ursula von der Leyen e que entra em funções no início de novembro.
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