Há anos, muitos anos, que defendo a revisão do sistema de ensino. Não sou a única. Sei que será uma tarefa hercúlea e que talvez implique muito mais do que eu possa imaginar, contudo parece-me evidente que as novas gerações não podem aprender como a minha geração aprendeu: numa sala de aula, presos a uma secretária ou cadeira com tampo, alinhados, encarando um quadro e um professor.

Esta geração, a anterior, os millennials se preferirem simplificar, são multitarefeiros, não se concentram numa única coisa, precisam de estímulos diversos e, por muito que possa fazer impressão a quem é mais velho, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. O Covid-19, estes tempos que agora vivemos, trouxe várias reformas, ajustes de comportamento, mudanças radicais. Espera-se, em algumas escolas, que os miúdos fiquem confinados durante cinco horas na mesma sala, sem grande mobilidade e muitos com  intervalo na sala, com um professor a vigiar e sem se poderem levantar nem falar uns com os outros . Qual será o resultado? É mais do que certo que irá dar asneiras diversas. É mais do que certo que tem tudo para não funcionar, mesmo que os professores sejam excepcionais, como tantos serão.

Cinco minutos sentados na sala, outros ao ar livre, com ou sem supervisão, versus cinco horas sentados, perfilados e direitinhos. Consigo imaginar com facilidade os telemóveis a surgirem debaixo da mesa. Consigo antever a tensão a crescer. E consigo perceber que os professores têm à frente uma tarefa ingrata, para mais de máscara, lutando com a ausência de expressões faciais, com a vontade de respirar.

Não voltaremos a respirar livremente? Não faço ideia. Sei que não me anima nada a conversa sobre as putativas vacinas. Não tenciono vacinar-me, não creio que seja seguro, dêem dez anos à investigação e talvez mude de ideias. A minha esperança é num tratamento, tal como acontece há décadas com o HIV. Entretanto, temos os mais jovens aprisionados nas escolas. Fatalmente, o ensino será afectado. Não existem milagres e estas soluções não são adequadas às novas gerações. Precisam de se mexer. Precisam de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Quantas vezes ouvi professores queixarem-se da tortura de uma aula de 90 minutos? As mesmas vezes que ouvi queixas semelhantes da boca de alunos. Muitas vezes, demasiadas vezes. Agora temos cinco horas seguidinhas sem parar, sempre com um professor na sala de aula. E os tais cinco minutos para respirar, quando os há. Vamos ver até quando este modelo sobreviverá e que sequelas deixará. Sim, já se sabe, não estou optimista.