Estava a conversar com um amigo meu e, já não sei porquê, falei da polémica que tinha havido com o Valete há uma semanas. Ele, fã de rap e do Valete, levantou a sobrancelha e perguntou “Que polémica?”. Fiz uma pausa de dois segundos a tentar perceber como seria possível ele ter passado ao lado de tamanha polémica e indignação a nível nacional e, depois, lembrei-me: “Ah, tu não tens redes sociais, é verdade”. Nada. Nem Twitter, nem Facebook, nem Instagram, nem Hi5. Nem Tinder, só para verem o eremita.

É verdade que essa polémica extravasou das redes para os jornais online, não pela relevância, mas porque muitos jornalistas de hoje são cães farejadores de likes e views, muito por culpa do contexto que o mundo jornalístico vive, o que é certo é que o maior impacto da polémica foi no Twitter e afins.

Com isto, percebi que quem não tem redes sociais vive num mundo melhor, com menos polémica, onde as pessoas se ofendem menos. Viver nas redes sociais é como viver dentro do carro, onde todos buzinam por tudo e por nada, fazem piretes e mandam-se, mutuamente, ir ter com a respectiva progenitora, que invariavelmente é uma meretriz. No trânsito há pouca criatividade para o insulto, tal como acontece na Internet, onde ou se é fascista ou comunista; racista ou nazi; lampião ou lagarto. Quando digo que os que se auto-excluem das redes sociais vivem num mundo mais bonito, há a excepção de as pessoas serem todas mais feias na realidade do que no Instagram. Também as vidas glamorosas da Internet são menos interessantes na realidade e, no fundo, são como os rabos empinados que ao vivo não são assim tão perfeitos e tão livres de estrias. Já no Twitter, parece que estamos na sala de convívio de um manicómio, onde as pessoas têm discussões que acham inteligentes em 280 caracteres de cada vez. Qualquer discussão cujos argumentos caibam em tão pouco espaço, é uma discussão pouco inteligente. Já o Facebook é um bocado o lar de idosos onde vamos visitar a nossa avó, com gente que não diz coisa com coisa e acredita em tudo o que partilham.

Não sou um apologista de que as redes sociais são nefastas para a humanidade e que antigamente é que era bom. Acho que a Internet e as redes sociais trarão sempre mais coisas boas do que más e são essenciais para o acesso livre à informação e à democratização do conteúdo. No entanto, acho que temos de aprender a relativizar, tal como fazemos quando estamos a conduzir e alguém nos buzina e chama nomes. Chegamos a casa e esquecemos. Não é assim tão importante para a nossa vida aquela indignação. Com as discussões e polémicas de redes sociais temos de começar a fazer o mesmo: respirar fundo e ligar a alguém que não tenha redes sociais e perguntar o que acha sobre o assunto. Se não souberem do que estamos a falar, é porque não é assim tão importante e mais vale desligar o Twitter e ir para o PornHub. Não me interpretem mal. Não deixem de se indignar nas redes sociais. As polémicas dão-me jeito porque, muitas vezes, estou sem assunto e escrevo sobre elas e pagam-me.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para rir: Bruno Nogueira no Altice Arena, com convidados Ricardo Araújo Pereira e Carlos Coutinho Vilhena. Bilhetes neste link.

Para ouvir: Valete no Capitólio. Bilhetes neste link.

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