A vida de Mapplethorpe foi breve mas intensa. Morreu em 1989, em Nova Iorque onde sempre viveu, tinha 42 anos, não resistiu, por entre sexo e drogas, ao letal vírus da SIDA. Quando começaram a aparecer as imagens fotográficas captadas por Mapplethorpe houve uma primeira vaga de repúdio. Profanava o uso da câmara fotográfica, a Polaroid com que se iniciou (como lidaria hoje com as selfies?), a Hasselblad que usou a seguir.
Mas a relevância dele foi logo reconhecida, tanto que a criação de Mapplethorpe chegou a discussões no congresso, em Washington, onde um senador republicano denunciou “a obscenidade travestida de arte”. A sexualidade andrógina, muito partilhada com Patti Smith, num tempo ainda de tabus, desenfreou muita gente fechada a ousadias.
Uma fotografia de 1975 deu-lhe o estatuto de génio: é a que faz capa do disco Horses, de Patti Smith. A cantora-poeta aparece encostada a uma parede branca, olha-nos de modo ao mesmo tempo frágil e desafiador, veste-se à maneira dos homens de então, camisa branca, calças pretas presas por suspensórios e casaco sobre o ombro. O visual e pose de Patti Smith, masculinizados, marcaram uma rutura na imagem das cantoras daquele tempo. A fotografia a preto e branco, com sábio uso da luz natural puxou Mapplethorpe para ser imediatamente disputado como artista-fotógrafo. Vários divos que então despontavam, Isabella Rosselini, Donald Sutherland, Arnold Schwarzenegger, muitos outros, ousaram querer entrar no que passava por ser o antro de Mapplethorpe, e serem fotografados por ele. A excecional sensibilidade a captar a luz de quem retratava cotou-o como artista maior a fotografar. Sempre a buscar a perfeição na forma em cada fotografia. Quase sempre a tratar a sexualidade como obra de arte.
O sexo, em jeito de ultrasexo, uma fixação de Mapplethorpe, é alimento essencial para a vida como para a arte e a fama dele. Imagens sexuais em cada gesto. As fotografias que faz têm a ousadia levada ao ponto que alguns definem como obsceno e outros chegam a dizer que é porno. Mas ao mesmo tempo aclamado: Man in Polyester Suit, fotografia de um seu namorado, Milton Moore, em fato de poliéster com a braguilha a deixar de fora, à vista, o conteúdo volumoso foi de imediato êxito de vendas em leilões de arte. Foi vendido, primeiro, por 390 mil, depois 450 mil dólares.
As fotografias de Mapplethorpe escavacavam o puritanismo dos anos 70/80 do século XX. Imagens com estética depurada, mas a desafiarem a moral pública. A entrarem pelo proibido.
Mapplethorpe depressa passou a ser acolhido em galerias e museus, com colecionadores a investirem fortunas nos nus, nas pétalas de flores e nos retratos de celebridades feitos por ele. Mapplethorpe utilizou a fotografia como outra expressão de escultura. Todo o trabalho fotográfico dele ilustra o confronto entre a arte contemporânea e a sua aceitação pela sociedade.
O que o Porto vai mostrar em Serralves são fotografias, ora doces ora brutais, da obra rica e complexa de um génio, controverso, descarado, insolente, de uma época cheia de fotografias. Ninguém como ele terá retratado aquele mundo de Nova Iorque. Nada ali é banal, tem provocação que ao primeiro olhar é vista como escandalosa. Mapplethorpe usou a liberdade certamente sem se preocupar com o modo como os outros o julgariam.
MERECE ATENÇÃO:
Outra vez crise financeira e o mundo em recessão já daqui a dois anos? Que os alertas ajudem a afastar o mau agoiro.
Regresso, duas semanas depois, ao Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.
2h01m39s, recorde da maratona pulverizado por Eliud Kipchoge. A barreira das duas horas na maratona vai ser superada? O diário Marca enche a capa com a pergunta certeira?
Vantagens de andar a pé.
Comentários