Em Portugal, país onde a população do sexo feminino é maioritária, com cerca de 53 % do total, no parlamento, com 230 lugares, as mulheres deputadas são apenas 91. Mesmo assim, o progresso é enorme: eram somente 19 no primeiro parlamento da democracia, o constituinte de 1975, desceram para 15 em 1976, depois, 17 em 1979, 18 em 1983, 19 em 1987, 20 em 1991, ano em que a Revisão Constitucional baixou o número de deputados de 250 para 230.

O número de deputadas foi de 28 entre os 230 eleitos em 1995 e, a partir de então, tornou-se mais expressivo: 40 eleitas em 99, 45 em 2002, 49 em 2005, 63 em 2009, 61 em 2011, 76 em 2015 e 91 em 2019. São agora 40% da Assembleia da República.

No poder local português, a representação feminina nas presidências de câmara tem proporção ainda mais reduzida: nas primeiras eleições locais, em 1976,  foram eleitas apenas cinco mulheres (Judite Pinto de Abreu em Coimbra, Maria de Lurdes Breu em Estarreja, Odete Isabel na Mealhada, Francelina Chambel no Sardoal e Alda Santos Vítor em Vagos).

Até 1997, as mulheres na presidência de municípios foram sempre menos de meia dúzia (4 em 1979, 6 em 1982, 4 em 1985, 6 em 1989 e 5 em 1993) entre os mais de 300 presidentes de câmara. Passaram a ser 12 em 1997, 16 em 2001, 19 em 2005 23 em 2009 e 2013 e 32 em 2017. A lei da paridade, em 2006, definiu que todas as listas de candidaturas teriam de ter a representação mínima de 33,3% de cada sexo. Mas os arranjos têm sido feitos de modo a que apenas 10,4% dos 308 municípios portugueses tenha uma mulher na presidência.

A realidade não é radicalmente diferente em outros países europeus: em Espanha, 1751 alcaldesas representam 21,7% do total; em França, apenas seis das 53 cidades com mais de 100 mil habitantes são dirigidas por mulheres maires, entre elas duas das principais, Paris (Anne Hidalgo) e Lille (Martine Aubry).

Anne Hidalgo tem a reeleição no próximo domingo, na capital francesa, dada como muito provável. Martine Aubry tem a continuidade na presidência da mairie de Lille, que desempenha há 20 anos, muito incerta. Em ambos os casos, a aliança com os Verdes parece determinante para estas mulheres socialistas: o desfazer do pacto que tinham põe sob ameaça a reeleição de Aubry; o novo pacto reforça a probabilidade de Hidalgo.

Esta ida às urnas em França no dia 28 é a segunda e definitiva volta da eleição prevista para março e que a pandemia adiou.

Em Paris, a escolha é feita entre três mulheres: a socialista Anne Hidalgo, eleita em 2014 (após ter sido adjunta do anterior maire, Bertrand Delanoe), recebeu na primeira volta 30,8% dos votos, frente aos 22% de Rachida Dati (candidata à direita, ex-ministra de Sarkozy) e os 17% de Agnès Buzyn (candidata do partido de Macron, de quem era ministra da Saúde).

A aliança entretanto formada entre a socialista Hidalgo e o verde David Belliard (10,8% na primeira vota) tem forte probabilidade de sair vencedora com um programa que reforça as políticas anti poluição, tanto a do CO2 como a sonora. Hidalgo propõe-se reduzir de 50 para 30km/h a velocidade máxima na maioria das ruas e avenidas de Paris – o Périférique, a grande circular da capital, fica no limite de 50km/h. A vasta ampliação de zonas pedonais e cicláveis traduz-se na forte redução de zonas de trânsito automóvel privado e acompanha a política de bairros em que tudo está acessível à distância de ¼ de hora.

O debate entre as três candidatas à mairie de Paris mostrou uma diferença essencial em relação aos habituais debates dominados pela presença de homens: a linguagem é diferente. O debate, apesar de fortemente combativo, nunca saiu do respeito pel@ outr@, não teve insultos. Com recurso a um exemplo extremo: nada do tipo de linguagem de Trump. Também nenhuma pobreza na argumentação.

O mesmo está a ser constatado em Marselha, onde duas mulheres, Michèle Rubirola, candidata de uma união das esquerdas e verdes, favorita, e Martine Vassal, candidata à direita, disputam a sucessão de Jean-Claude Gaudin, maire ao longo dos últimos 25 anos.

A linguagem usada e o que ela afirma é também um elemento principal para a neo-zelandesa Jacinda Arden, primeira-ministra desde 2017, ser hoje uma estrela política global. Ela cultiva a empatia e a generosidade. É firme mas aparece gentil, até com graça, e é portadora de esperança.

Se o espaço político é sexuado, tem sido masculino e a maioria dos que o frequenta deseja que continue assim. Os exemplos práticos mostram que seria bem melhor se houvesse mais equilíbrio. Mulheres que comandam a política a partir de estados e instituições com poder forte, como Angela Merkel, Urusla von der Leyen e Christine Lagarde mostram-se bom exemplo. A política é um espelho da sociedade, ora, se o espelho deforma, por não representar as pessoas que compõem essa sociedade, dá desapegos.

A TER EM CONTA:

Os franceses resolvem no domingo a presidência de todos os municípios do país. Há cidades onde a luta eleitoral está muito renhida. Os Verdes (EELV) podem conseguir a proeza de conquistar cidades como Bordéus e Estrasburgo e de proporcionar vitórias às esquerdas. A direita radical de Marine le Pen (RN) apenas parece capaz de conquistar uma das cidades com mais de 100 mil habitantes, Perpignan.

O presidente da Polónia, Andrzej Duda, candidato à reeleição no próximo domingo, diz que “a ideologia LGBT é pior do que a do tempo comunista”. Duda, apesar de favorito, está a sentir-se ameaçado pelo candidato Tzarkowski da oposição, aglutinada numa Plataforma Cívica, e escolheu receber a bênção de Trump.

zanga na campanha de Trump.

Duas capas de revistas: esta e esta.