A história das revistas femininas em Portugal não era muito significativa, existiram algumas, existiram com condicionalismos próprios da época, do regime, da mentalidade. A Máxima trouxe modernidade, os temas eram tratados numa perspectiva abrangente, não posso dizer que eram tratados exclusivamente numa dimensão feminina, é redutor do trabalho que ali se fez. Inspirava-se em outros modelos, nomeadamente franceses e ingleses, e era uma revista que crescia em leitores, anunciantes e credibilidade jornalística. Passaram naquela redacção jornalistas de gabarito, palavra em desuso que estou teimada em fazer persistir, e com alguns aprendi, aqui e ali, algumas coisas sobre revistas, apesar de nunca ter trabalhado na Máxima. Integrei a redacção da Marie Claire anos depois, e quando esta foi fechada de maneira infame, fui trabalhar em part time para a revista Elle.

Hoje em dia, além da edição da revista Egoísta, trabalho na revista da Cristina Ferreira. Há quem não entenda, não me importo com isso, gosto de fazer as duas publicações que são distintas em quase tudo menos numa coisa: queremos fazer bem feito. As pessoas que consideram as revistas femininas um segmento da comunicação sem importância, associando simplesmente ao universo da moda e da beleza, são as pessoas que nunca leram uma revista dita feminina (digo “dita feminina” porque sei que muitas são lidas por homens e, no caso da Cristina, é assumido que é para quem a desejar ler, não importa o género).

Na Máxima, que agora vê as suas portas fechadas ao fim de 32 anos de existência, e em outras revistas, aprendi e aprendo muito. Li entrevistas muitíssimo bem feitas com entrevistados de diferentes áreas, li sobre consumo, sobre moda, sobre saúde, sobre maternidade, sobre sucesso empresarial, sobre política, sobre temas variados de sociedade. Nas revistas faz-se jornalismo. Há glamour? Pois com certeza que há glamour, e ainda bem que assim é. A história da moda também é uma história da política, da sociedade em que vivemos, um reflexo do que lhe é contemporâneo. Precisamos de ver coisas bonitas? Sim, precisamos, faz bem à alma. Existem controvérsias? Nestas publicações e em todas as outras, ser consensual deve ser uma grande chatice. A edição britânica da revista Vogue publicou este mês uma capa maravilhosa com a actriz Judi Dench, tem mais de 80 anos, e a capa é linda, ela é linda. As revistas desmistificaram, ou ajudaram a desmistificar, questões como o envelhecimento activo, os padrões de beleza, os constrangimentos sociais de ordem diversa, preconceitos e políticas sociais e culturais.

Aprendi muito com a Máxima, aprendo sempre com revistas, sejam elas portuguesas ou estrangeiras, gosto especialmente quando são nacionais e mostram o bom trabalho que os profissionais portugueses conseguem fazer. A Máxima morreu e para muitos não tem importância. Tem muita importância, perdemos uma fonte de comunicação, uma plataforma para bom jornalismo, um local de trabalho para jornalistas, editores, produtores, fotógrafos, maquilhadores, stylists, etc. Façamos o luto e não deixemos que o mesmo aconteça a outras tantas revistas, femininas ou nem por isso. É que a bem verdade importa dizer que as revistas femininas ajudaram a mudar o mundo. A Máxima ajudou a mudar um país, é preciso não esquecer.