Estão em curso obras em Santa Comba Dão para erigir o Museu Salazar. Uma petição com mais de 5000 subscritores contesta a concretização desta ideia, bem como mais de 200 ex-presos políticos se juntaram para se opor a tal empreitada. O edil de Santa Comba Dão já veio serenar o povo, assegurando que o local "não (será) um santuário dedicado a nacionalistas nem um museu onde se vai diabolizar o estadista de Santa Comba Dão".

Estamos todos mais descansados. Era o que mais faltava, "diabolizar" Salazar. Especialmente ao chamar-lhe nomes feios e injustos. Como, sei lá, "estadista". Os museus são intrinsecamente imparciais em relação a todos os fenómenos históricos. Sempre que visitei um museu dedicado ao holocausto fiquei sempre na dúvida se aquilo foi de facto mau ou se, à luz da época, até foi porreirinho.

Porém, desengane-se quem concluir que este museu se assume como um templo a Salazar, cheio de fotografias do seu melhor lado e plaquetas com legendas panegíricas. Nada disso. O espaço em Santa Comba Dão será um Centro Interpretativo. Notoriamente direcionado para quem considera que o facto de Portugal ter sido submetido a uma ditadura é algo sujeito, lá está, à interpretação de cada um.

Já estou a imaginar os pacotes de férias. Em princípio, serão publicitados através daqueles folhetos que se metem nas caixas de correio. Lê-se em WordArt: "FIM-DE-SEMANA FACHO. 70€ EM HOTEL **. CAMIONETA PARTE ÀS 6H DE DIA 23 DA RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO. OFERTA DE CONJUNTO DE LÁPIS AZUIS CARAN D'ACHE". Adquiram antes que esgote.

Por mim, inaugurem o museu à vontade. O importante é que se rentabilize. A questão é, vai lá haver algum sítio para picar alguma coisa ou vai-se passar fome durante 48 anos? Têm desconto para grupos ou não permitem ajuntamentos? É urgente esclarecer dúvidas como estas.

Imagino que as figuras que estarão expostas neste museu ganhem vida à noite, como no filme. Imagino Salazar a contar anedotas a membros da Legião Portuguesa. Cardeal Cerejeira a dançar J Balvin. Américo Thomaz a tentar beijar António Ferro. Rosa Casaco a torturar Marcello Caetano com cócegas. Imperdível.

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