Visitei Washington D.C. nos últimos dias, onde fiquei num hotel perto da Casa Branca. Enquanto eu refletia sobre se devia ou não participar numa free walking tour para conhecer a cidade, Joe Biden tomava uma decisão ligeiramente mais complexa: largar um drone em cima do líder da Al-Qaeda. Um ano depois da queda de Cabul - pináculo da desastrosa política externa dos americanos naquela região - Biden deu o corpo às balas para se posicionar como presidente forte que não vira as costas ao combate ao terrorismo. O corpo de outra pessoa, claro. Havendo eleições intercalares em breve, há que mostrar que se sabe fazer peito. Não é política externa, é política do esterno.
Aproximam-se as midterms e os números não mentem: a inflação é alta e a aprovação de Biden é baixa. Para não sofrer uma pesada derrota, os Democratas estão a comportar-se como eu a jogar Street Fighter: carregam em todos os botões à espera de um milagre. Biden é visto como um presidente fraco? Vamos lá matar um jihadista, que a gente não se curva perante o radicalismo do Médio Oriente. A gasolina está muito cara? Vamos lá beijar os pés ao príncipe da coroa saudita, que a gente se for preciso curva-se perante o radicalismo do Médio Oriente. E o Khashoggi? Não tem mal, o gajo era um bocado chato. Violações dos mais básicos direitos humanos? Vá, vá. Simplesmente mantenham os preços do petróleo baixos e de resto façam o que a(sharia)em melhor.
Paralelamente, os Democratas premiram dois botões ao mesmo tempo no que toca à sua relação com a China. Por um lado, Nancy Pelosi, líder do Congresso americano, aterrou em Taiwan após o voo mais acompanhado pela Internet desde, sei lá, aquele que supostamente transportava Edinson Cavani para o Estádio da Luz. Por outro lado, Joe Biden havia considerado essa visita uma “má ideia”. Calculo que Biden já tenha ligado a Pelosi a dizer “Quantas vezes já te disse para não provocares Xi Jingping? Mas é o quê, estou a falar chinês?!”. Juntando isto às tensões internas entre centristas e progressistas, o partido que não tentou organizar um golpe de estado há menos de um ano está mais dividido do que o partido que tentou organizar um golpe de estado há menos de um ano.
Entretanto, voltei para Portugal. Espero que Augusto Santos Silva não copie a sua congénere americana, visitando Taiwan. Não nos dá jeito nenhum armar barraco com a China, que tem uma boa parte da EDP. Especialmente agora, que andamos às turras com a Endesa. Toda a gente sabe que os políticos portugueses só devem ir a territórios controlados por partidos quando é para ir buscar malas de dinheiro a Macau. Quanto à energética espanhola, o primeiro-ministro fez o que qualquer português faz quando olha para a conta da luz, que é dizer “estes gajos andam-me aqui a gamar”. Quem se trama é o Galamba, que vai passar Agosto a mergulhar numa piscina de facturas. Que bom é estar de volta. A política americana oferece mais entretenimento, mas sabe bem regressar a um país que é gerido como uma mercearia.
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