Sei que parece um pouco contraditório falar deste assunto em junho, o mês do Dia Mundial da Criança, e pode até parecer que estou a sujar esta data. Mas a verdade é que esta é uma realidade que precisamos de abordar cada vez mais, porque a violência sexual infantil é uma endemia que está muito mais presente na sociedade do que muitas pessoas possam acreditar.

Quando falamos de violência sexual contra crianças falamos de infâncias destruídas e de vidas interrompidas. São crianças que na grande maioria são abusadas por alguém da sua confiança, por alguém próximo, e muitas vezes (entre 70% a 85% dos casos) por alguém da sua própria família. Imagine o que é para a criança ter alguém de quem gosta e em quem confia abusar sexualmente dela. Que impacto terá nas suas representações das relações, na capacidade de confiar e na forma como se vai relacionar com os outros?

Ser vítima de abuso sexual é uma experiência traumática que pode ter consequências devastadoras. A maioria dos homens que procura o apoio da Quebrar o Silêncio foi abusada durante a infância, e muitos passaram mais de 20 ou 30 anos a sofrer em silêncio. Por isso, é fundamental que debatemos, cada vez mais, violência sexual infantil, para conseguirmos contribuir para a prevenção desta forma de violência e tentarmos diminuir o longo período de silêncio das vítimas.

Como receber a partilha de uma criança vítima de violência sexual?

São poucas as crianças que partilham com os pais ou com um adulto de referência que estão a ser, ou que foram, abusadas. Por vezes, fazem partilhas que não vão vistas como tal, apelos que são ignorados. Também é comum que as crianças tenham medo de serem castigadas se partilharem situações de abuso, pelo que permanecem em silêncio.

Receber essa informação pode ser inesperado para o adulto e pode provocar sentimentos confusos. No entanto, é fundamental manter a calma de modo a garantir que a criança se sente segura. Numa situação destas, na Quebrar o Silêncio aconselhamos a que:

  • Mantenha a calma;

  • Transmita à criança que a culpa não é dela;

  • Valorize o ato de coragem que representa ter-lhe contado sobre o abuso;

  • Não force a partilha e respeite o tempo da criança;

  • Disponibilize-se para ouvir;

  • Acredite na criança e valide o que ela lhe diz;

  • Ouça com atenção, sem juízos de valor e sem criticar a criança;

  • Se possível, procure um espaço seguro onde possa ouvir e conversar com a criança sem interrupções;

  • Tenha presente que violência sexual é crime e que deve ser denunciado.

É importante ter em mente que a violência sexual pode ser uma experiência pontual ou continuada por um período de tempo indeterminado, e que nem todo o abuso implica penetração. Há formas de abuso sem contacto físico que podem ser igualmente traumáticas para a criança  Um exemplo é o grooming online ou persuadir crianças a estarem envolvida em atos sexualizados com terceiros.

As estratégias de manipulação dos abusadores visam garantir o silêncio da criança, levando-as a desenvolver sentimentos de culpa e vergonha, e mesmo a negar o abuso quando confrontadas com essa questão. A verdade é que é possível que os pais e mães não se apercebam de que os seus filhos são ou foram vítimas de abuso sexual. Os temas de abuso sexual são vistos como tabu, o que pode promover o silêncio nas crianças e levar a que não partilhem estas situações.

Por último, não assuma que uma partilha de abuso sexual por parte de uma criança é mentira ou que é uma chamada de atenção. Valorize sempre o que o seu filho ou filha diz e não se esqueça de que a responsabilidade é sempre do abusador, nunca da criança.


Na Quebrar o Silêncio prestamos apoio especializado para homens vítimas de violência sexual. Se foi vítima de abuso sexual, na infância ou em idade adulta, contacte-nos através do apoio@quebrarosilencio.pt  | 910 846 589. Os nossos serviços de apoio são confidenciais e gratuitos.

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