E as férias de Verão chegavam e na praia, naquela rua da cidade que se visitava, em casa de uns amigos dos pais, perto da piscina, à beira da água, num pequeno bar com esplanada, o amor acontecia. Ele e ela, dois desconhecidos, num encontro que seria para durar o que os dias quentes prometiam e pouco mais, mas era um amor intenso, genuíno, palpitante, talvez o primeiro. Faziam-se pequenas loucuras, ele a sair de casa pela janela para ir ter com ela, a escrever-lhe bilhetes que o irmão mais novo ia entregar. Era o Verão e era o amor.

A pergunta é: quem nunca? A resposta pode invocar diferentes memórias, melhores ou piores, as fotografias podem relembrar que existiu mesmo uma época em que andávamos com os ombros cheios de chumaços e cabelos besuntados com gel ou, pior ainda!, com aquela permanente no cabelo que queimava pontas e tudo o mais e nos deixava parecidas com certos cães cuja raça agora não me ocorre. Ah, os anos oitenta, sim, o tempo em que as pessoas começavam por conversar, tocavam-se discretamente, um toque aqui, ali, uma mão e, depois, a loucura, o primeiro beijo, a primeira experiência sexual. Era bonito. E tudo isto tem de ser conjugado no passado.

Quantos amores de Verão não irão acontecer este ano? Centenas, milhares, quem conta essas coisas?, e que importância tem se vivemos na incerteza da pandemia que nos obrigou a perder velocidade, a perder chão, a perder confiança? Tem muita importância, creio, não só porque se perdem as histórias e as memórias, as tais fotografias que iriam arrepiar algumas almas quando chegassem a 2050, como se perde a oportunidade de aprender a viver a sexualidade. Explico melhor: se há distância física, se há máscaras, se há cuidados a ter, e ainda bem que os temos, é crucial que os tenhamos, como é que os adolescentes vão descobrir o amor, o sexo, a vidinha que começa por essa altura?

Há quem me diga que ninguém pensa nestas coisas, eu talvez seja uma romântica mas hoje vi dois adolescentes (ela com o cabelo liso, ele no auge da acne, um clássico comovente) que se olhavam, sem porventura entenderem a expressão do outro, o interesse do outro. Ele não a viu corar, a máscara era às bolinhas, um tom de bege e bolinhas brancas, a esconder o interesse, a possibilidade, o atrevimento. Se esta história tivesse a hipótese de vir a ser amor, será que o mundo se pode permitir perdê-la? O coronavírus irá fazer estragos a tantos níveis, já sabemos, não se fala noutra coisa, estamos dentro do mono tema, mas ninguém fala nos amores de Verão e isso é um pouco triste, tira-me mais esperança.