A eleição da deputada Joacine Katar Moreira foi um momento de grande exultação para os seus eleitores. Exultação essa que durou vinte e três segundos, tempo de atualizar o browser apenas para concluir que André Ventura tinha também conquistado um lugar no Parlamento. A Iniciativa Liberal também elegeu um deputado, o que resulta numa grande vitória do Twitter sobre o Facebook: elegeram dois partidos contra um. Foi também no Twitter que surgiu uma polémica sobre bandeiras, sobre a qual não posso deixar de me debruçar, na qualidade de entusiasta de controvérsias vexilológicas.

Aparentemente, na festa do Livre, que teve lugar na Fábrica do Braço de Prata (fábrica de armas utilizadas na Guerra Colonial! Ofensivo!), foram desfraldadas bandeiras da Guiné-Bissau. “Muito grave”, proclamaram alguns internautas – do tipo daqueles que tem uma bandeira de Portugal no nome de utilizador do Twitter. É possível que haja aqui um caso gravíssimo de discriminação. Não vislumbrei bandeiras de outras Guinés. Zero bandeiras da Guiné-Conacri, nenhum símbolo da Guiné Equatorial e sobretudo nem uma referência à Papua Nova-Guiné, que sendo Nova e, acima de tudo, Papua, não merecia esta ostracização neste certame inclusivo.

“Bandeira da Guiné? Mas isto é uma eleição de que país?”. Penso que é de Portugal. E percebo a indignação. Já celebrei uns quantos campeonatos no Marquês de Pombal e também me insurgi contra os consócios que levaram bandeiras da Grécia ou da Argentina, em homenagem a jogadores como Samaris ou Saviola. “Então, mas isto é um campeonato de que país? Isto é o Racing Club Alvenalleda ou o Aris Salónica? Isto é Portugal!”.

Eu não percebo nada de semiótica. Aliás, na única frequência que realizei no âmbito dessa disciplina obtive 6 valores. 6. Penso que aqui 6 é um signo, que tem o significado de que eu não tinha estudado. Não sei, não entendo nada disto. Mas posso arriscar que as bandeiras podem ter vários significados.

Não me parece que haja más intenções em ter uma bandeira da Guiné Bissau. Penso que não temos superioridade moral quando muitos de nós entramos em expressões de patriotismo inócuo ou mesmo bacoco, sem significado ideológico, quando, por exemplo, se brada o hino num jogo particular de futebol como se estivéssemos numa trincheira de La Lys, ou quando se pendura uma bandeira de Portugal no quarto de Erasmus – precisamente um programa pago por uma entidade do tipo supranacional. Em nenhuma destas situações queremos dizer que estamos a tentar ocupar o território em causa ou a ameaçar as culturas locais. Acho que a bandeira da Guiné aqui será mais um símbolo da mobilidade social, em que uma cidadã que nasceu numa antiga colónia conseguiu ultrapassar as barreiras de oportunidade, culturais e económicas, para alcançar um inédito lugar no Parlamento. Tenho razão? Ninguém quer saber. Este parágrafo sério já vai longo, – prometo que esta estupidez não se repete – voltemos à parvoíce.

“Não me importo que houvesse uma bandeira da Guiné, mas não havia nenhuma bandeira de Portugal”. Compreendo. Talvez fosse falta de organização do Livre. Imagino que Rui Tavares gostasse de se ter apercebido dessa falha no economato do seu partido a tempo da celebração. "Malta, temos aqui um problema. Em princípio, podemos eleger um deputado. CALMA, CALMA, SIM, É ÓTIMO, JÁ DANÇAMOS. Safaa, pára de dançar! Não estás numa discoteca de Beirute. Deixem-me falar. Ora bem, malta em princípio podemos eleger um deputado, mas há aqui um problema com a festa. O Tomás tem uma bandeira da Guiné, o Jorge tem uma bandeira do Lesotho, a Safaa tem do Líbano e a Filipa da Antiga República Jugoslava da Macedónia, mas não há nenhuma do nosso Portugal! Alguém pode ir ao Chinês comprar? DESCULPEM, DESCULPEM. Ao armazém de retalho do trabalhador cidadão imigrado de Shenzhen. Vejam lá se compram daquelas sem os 7 castelos arredondados, que os gajos não sabem fazer bandeiras portuguesas. DESCULPEM, DESCULPEM. Que os nossos sino-irmãos têm uma diferente interpretação dos símbolos imperialistas apropriados pelo fascismo. Pega lá cinco euros. DESCULPEM, DESCULPEM. Pega lá cinco unidades da moeda opressora que concede poderes discricionários a nações dominantes sem legitimidade democrática ou verdadeira solidariedade económica." Fica para a próxima.

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