As férias habitualmente puxam por leituras mais leves. Um bestseller, um livro de não-ficção dos tops das livrarias, uma releitura de um clássico de infância. Fico de todas as vezes surpreendido com as pessoas que levam densos calhamaços para a praia, como o "Anna Karenina" de Lev Tolstoi (de 896 páginas) o "Infinite Jest" de David Foster Wallace (de 1079 páginas) ou o tópico “Cavani” do fórum SerBenfiquista (de 8975 páginas).

Porém, a verdade é que a novela Cavani não é uma obra literária tão complexa como a sua extensão poderia indiciar. Não é uma narrativa não convencional, nem tem imensas personagens principais. Aproximar-se-á mais do estilo penny dreadful, literatura barata distribuída em fascículos, destinada às massas. É uma tragédia com características presentes em qualquer outro drama fácil.

O protagonista - Benfica - tem um interesse amoroso - Cavani. O amor parece impossível. O quarto maior goleador da década num clube que há meses requereu o empréstimo de Dyego Sousa? Seria um desafio à norma. Mas Cavani dá corda ao seu pretendente, o que faz com que o Benfica, apaixonado, entre em loucuras. É aí que surge o antagonista. O irmão de Cavani não vai deixar ir a sua donzela sem que lhe paguem um excelente dote. As coisas azedam. Cavani não pode aceder à paixão de Benfica caso o dote não seja pago. O vil metal que tudo corrompe destrói o amor. Tudo isto narrado pelo coro, que são as centenas de pessoas que tinham informações fidedignas, exclusivas, inquebrantáveis sobre o negócio, lideradas pelo deus Fireeagle, utilizador de um fórum online.

É uma narrativa onde o protagonista é acometido pela hubris, conceito grego que remete para a arrogância perante os Deuses, o desafio da ordem natural das coisas, o descomedimento. Luís Filipe Vieira quer tanto assegurar que ganha as eleições que negociou durante um mês um jogador que estaria presumivelmente fora do alcance do Benfica, alimentando de forma vã a esperança dos adeptos. O descomedimento que teve nesta empreitada originou um resultado oposto ao que ambicionava. Agora é ir buscar alguém ao olimpo de Jorge Mendes.

Há amor. Há drama familiar (o irmão de Cavani faz de gémea má, recordando Sofia Alves em Olhos de Água). Há dinheiro (noutros tempos, também Judas Iscariotes e os sacerdotes estiveram num impasse para definir se as 30 moedas de prata era um valor bruto ou líquido). Tem catarse (a figura das pessoas que compraram a camisola de um jogador que ainda não tinha sido apresentado). A novela Cavani ainda não terá acabado. Recomendo 9/10.

Recomendação

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