Greta Thunberg e o movimento Fridays For Future conseguiram fazer o que as gerações adultas não conseguiram – uma mobilização global para a maior crise que enfrentamos em conjunto enquanto humanidade. Com mais de 2500 eventos em 117 países na Semana de Mobilização pelo Clima, este movimento está a mostrar aos governos, às empresas e a todos e todas nós que não podemos continuar na inércia e conforto de nada fazer, de encontrar desculpas ou mesmo de “fazer o mínimo porque já é alguma coisa”.

Nas últimas décadas, nenhum outro movimento conseguiu trazer a crise climática para a agenda dos líderes políticos, dos media, das escolas e das famílias. Obrigado a estes jovens pela perseverança e pela força que lhes foram necessárias para o conseguir. Para eles, também a mensagem de que já estão a mudar a História: a Greve Climática Global juntou milhares de pessoas, na passada sexta-feira, em todo o país, mais novos e menos novos.

A jovem Greta fez na Cimeira da Ação Climática das Nações Unidas um discurso que emocionou muita gente. Na sua frase mais conhecida dizia “como ousam?” (how dare you?). Esta pergunta era dirigida aos líderes, que com as suas palavras vazias roubaram os sonhos a Greta e às crianças e jovens como ela. E também a todos nós: como ousamos olhar para ela e para os jovens à procura de esperança? Uma esperança que deviam ser os jovens a procurar e a encontrar em nós.

Depressa as redes sociais se tornaram local de polarização, com milhares de pessoas a criticarem Greta pelo seu discurso, que acusaram de ser apenas lido por ela, uma marioneta que reproduzia com lágrimas palavras escritas e frases preparadas por adultos. Até da sua doença se fizeram valer para a acusarem. Como se atrevem? Este discurso de ódio e de procura de descredibilização mostra que, de facto, estes jovens dificilmente poderão encontrar esperança em nós – pelo menos, em muitos e muitas de nós.

Até é possível que assim seja, que Greta tenha tido o apoio de adultos na preparação do seu discurso, mas... não tem a grande maioria dos líderes mundiais adultos os seus discursos preparados por adultos? E não é por isso que os consideramos menos relevantes. E se agora Greta é a imagem da liderança de um movimento (pelo que muito do que faz e diz deve ser estrategicamente pensado e concebido), durante muitos meses, as suas solitárias sextas-feiras passadas à frente do parlamento sueco foram persistência sua – e foi isto que marcou a mudança no rumo da História.

Ainda não passou uma semana e o clima já “amainou”. Mas, neste caso, não é uma boa previsão. Das aberturas dos telejornais e das capas e destaques das publicações impressas, o tema passou a não existir nos meios de comunicação. Mas o problema não desapareceu. Na verdade, não houve sequer medidas concretas que pudéssemos considerar como sendo solução ou que, pelo menos, se vislumbrem enquanto tal. Parece que as “palavras vazias” dos líderes, como enfatizava Greta, se mantiveram, durante a Cimeira da Ação Climática. Talvez a cimeira devesse de facto ter tido outro nome, pois infelizmente a “ação” foi apenas dos jovens e (uma vez mais) não dos líderes políticos presentes.

É assim que queremos ser lembrados no futuro? Enquanto uma geração que prefere utilizar a descredibilização e o discurso de ódio para manter o status quo e a sua fácil e cómoda inércia? Uma geração que vai com a corrente dos “temas quentes”, aqueles nas capas dos jornais, e que depois esquece e nada faz? Porque é assim que nos estamos a comportar em relação a esta crise, que é um desafio muito real e muito presente – e que a Amnistia Internacional explica porquê de forma muito clara.

Como ousamos assim continuar? Como ousamos julgar que os jovens são o futuro? Os jovens são os líderes hoje, que estão a tomar nas suas mãos a mobilização e o ativismo para um mundo melhor. Os jovens estão a mudar o mundo. Queiramos todos aprender com eles e com o seu exemplo porque o planeta e a humanidade precisam disso urgentemente.

(Artigo de opinião corrigido às 15h03: altera-se o nome do autor do artigo de Pedro Neto para Paulo Fontes)

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