Num dramático e comovente desabafo, a Cristina começa por dizer: “Ser anti-feminista, branca, heterossexual, anti-marxista, anti-drogas, pró-vida e do povo transforma-me num alvo a "abater". Porquê? Porque faço parte da maioria e hoje as maiorias são para aniquilar”. Ia chorando. Mas vamos por partes.

A Cristina é anti-feminista, logo, essencialmente é contra a igualdade de género. É que podendo haver vários tipos de feminismo, a base contemporânea de qualquer um deles é a igualdade de direitos para qualquer ser humano. Até para quem é contra, como a Cristina, e que diz que o feminismo está a tirar a liberdade aos homens. E nesta parte tenho de concordar, é profundamente injusto que os homens não possam continuar a assediar as mulheres à vontade, que não tenham garantida uma diferença salarial substancialmente maior que elas por serem superiores, ou que sejam obrigados a reconhecer que uma ou outra mulher até tem mais capacidades do que saber limpar a casa.

É branca, o que é, realmente, um transtorno dilacerante no Portugal de 2020. Para já, porque se formos brancos e acharmos, mesmo que seja ao de leve, que somos superiores a outras cores, somos logo injustamente chamados de racistas. E depois, porque o racismo que existe é precisamente contra os brancos, e isso nota-se logo na muito maior dificuldade que, em comparação com os negros, têm em arrendar casa ou conseguir empréstimos para pagar as propinas. Já para não falar do fardo histórico de terem tido a obrigação, que tanto esforço e trabalho requereu, de colonizar países e escravizar povos inteiros. Um trabalho meritório ao qual se quer dar cada vez menos honras. Se não fosse isso, ainda hoje não tínhamos piri-piri para pôr no frango, essa é que é essa.

É heterossexual. Que dor. Hoje em dia as pessoas ignoram cada vez mais o sofrimento que é viver escondido e oprimido no armário da heterossexualidade, de querer exprimir sem repúdio alheio o seu amor por uma pessoa do género oposto, de querer ter filhos e não poder, e ainda de praticamente ser obrigado a ser homossexual. Porque é disto que se trata nos direitos LGBT, é obrigar, sim, obrigar, toda a gente a ser homossexual, levando a uma trágica e inevitável finitude da humanidade. A Cristina, muito provavelmente, quando anda na rua tem sempre mulheres a fazer-lhe propostas indecentes sobre fazer tesouras e outras coisas lésbicas. Horrível.

É anti-marxista. E ainda bem, se há coisa que é verdade no marxismo, é que todos os seus seguidores comem crianças ao pequeno-almoço como se fosse bacon com ovos.

É anti-drogas. Não que saiba que cerca de 70% das mortes relacionadas com a droga sejam homicídios (por guerras de tráfico), não que pense que a legalização, regulação e taxação poderiam servir a sociedade de uma forma incomparavelmente superior à ilegalidade, mas essencialmente porque sabe, e bem, que legalizar é o caminho para o deboche generalizado que o Diabo quer para chegar ao Apocalipse.

É pró-vida. E esta é das suas características mais importantes. Ser “pró-vida” ideologicamente é respeitar tanto a liberdade individual que se impõe a sua ideia de liberdade ao corpo dos outros, mas só porque os outros não sabem bem o que Deus lhes quer. Portanto, é contra aborto e a eutanásia. Se ela não quer para si, então é porque mais ninguém também pode querer. Matar crianças e velhinhos não é para a Cristina.

Com tudo isto, ainda se auto-intitula de “perigo social”. Pois não lhe posso atribuir esse epíteto.

Mesmo que fosse, como humanista que sou, defendo que mesmo os sociopatas merecem ser tratados condignamente, sem rótulo de “perigo”, como qualquer outro tipo de doentes. E já agora, que o possam ser num hospital público, porque a saúde é um direito fundamental.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Lugar Estranho: Verdade, isto é auto-promoção. Mas estou feliz com o regresso do meu solo de stand-up comedy e gostava muito que vocês aparecessem. Começamos em Coimbra já dia 12 de Fevereiro. Bilhetes na ticketline.