Vai ficar tudo bem. Pelo menos era o que achávamos em março do ano passado, enquanto fazíamos pão caseiro e pintávamos arco-íris. Na nossa posição atual, é muito fácil olharmos para trás e pensarmos no quão tontos éramos.

Quando somos crianças, ensinam-nos a acreditar que tudo é possível. Que devemos sempre lutar pelos nossos sonhos e que eles se irão realizar. É nessa altura das nossas vidas que somos mais otimistas. Mas o tempo vai passando e as coisas nem sempre correm como nós desejamos. Nem a pandemia faz parte do passado, nem todos conseguimos ser astronautas, futebolistas ou estrelas de cinema. E de repente instala-se uma visão pessimista do mundo. Tudo nos parece mal. Olhamos à nossa volta e só vemos desgraças, tragédias e tristeza.

De acordo com o Índice Global da Paz, em 2020 Portugal foi considerado o terceiro país mais pacífico do mundo, apenas atrás da Islândia e da Nova Zelândia. No entanto, uma conversa com a minha avó chegaria para assustar um estrangeiro que ficaria a pensar que seria assaltado no metro, que um ladrão lhe iria entrar pela casa dentro e que poderia acabar a noite morto numa esquina. Não me interpretem mal. A minha avó não está errada. Estas coisas podem de facto acontecer, e acontecem, todos os dias. Sim, existem criminosos. Sim, a luz está cara. Há um consumismo desmedido. Temos o aquecimento global. Há guerras pelo petróleo. Há refugiados que morrem em barcos insufláveis. Há um crescente extremismo e nacionalismo radical que leva algumas pessoas a acreditarem que são melhores do que outras. E houve uma crise. E vai haver uma crise, dizem eles. A maior crise.

No entanto, e não tendo em consideração a situação pandémica que estamos a viver, estatisticamente, o mundo nunca foi tão seguro como é agora. Mas nunca pareceu tão perigoso. Desde pequenina que ouço dizer que as más notícias viajam depressa. Todos os dias vemos nas televisões, telemóveis, revistas e jornais imagens chocantes e situações macabras. Incêndios, assassinatos, revoltas, caos nos hospitais. Eventos grandes e impactantes.

Mas sabiam que pela primeira vez na história da União Europeia há mais energia elétrica proveniente de fontes de energia renováveis do que de combustíveis fósseis? Que muitas das espécies outrora consideradas em risco de extinção já não o são atualmente? Que, apesar de todos os desafios, a indústria dos livros tem vindo a ter um crescimento de vendas? Que no Reino Unido já foram vacinadas mais pessoas do que aquelas que já testaram positivo para o novo coronavírus?

Boas notícias não são notícias porque normalmente existe uma evolução lenta. E, como não há um momento único com uma alteração drástica, a comunicação tende a não considerar estas notícias relevantes. Claro que o impacto de uma notícia má é muito superior e afeta muito mais pessoas. Mas quando ignoramos milhares e milhões de bons acontecimentos, não é possível termos uma visão correta do mundo, mesmo que esses acontecimentos isoladamente tenham pouco impacto.

É inerente à natureza humana generalizarmos. Olhamos para as coisas como boas, ou más. Visão otimista ou pessimista. Copo meio cheio ou meio vazio. Mas, na verdade, as coisas não são pretas ou brancas. Nem são cinzentas, como nos querem fazer acreditar. Há todo um espectro de cores que vai desde o bordô ao turquesa, passando pelo fúchsia e até pelas cores impercetíveis ao olho humano. E em vez de perdermos horas a pensar se o copo está meio cheio ou meio vazio, a pergunta que deveríamos fazer é: de que tamanho é o copo? E o que é que podemos fazer com o que está lá dentro?

Num momento em que o mundo está de pernas para o ar, vamos fazer de tudo para manter os pés na terra. Porque mais importante do que discutir se alguma coisa é boa, má, melhor ou pior do que antes, o mais importante é pensar em formas de realmente melhorar a situação, arregaçar as mangas e colocar mãos à obra. Quer o copo esteja meio cheio, quer esteja meio vazio, vamos tratar de enchê-lo.

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