Isto não é um país, é um esgoto a céu aberto. Depois de tudo, os comentários que se lêem por aí sobre Cristiano Ronaldo são de um mau gosto e ingratidão que roça o nojo. E digo isto com toda a isenção de quem odeia futebol. Sim, leram bem, não posso nem
ver o relvado, que me dá logo vontade de decorar os sonetos de Camões, para ver se não embruteço. Não suporto o jogo, o som do relato a massacrar-me os ouvidos, as centenas de horas de comentários, enfim, já perceberam que não é a minha cena, tenho o maior respeito, mas deixem-me de fora.

Talvez por isso mesmo seja tão aviltante perceber o fel que se destila contra um capitão que deu tudo o que tinha a um país. Desde sempre. Não há gratidão. Acusam-no do quê? De ser humano, deve ser, por isso altamente desprezível para os treinadores de sofá e cervejas. E velho, que este país adora o idadismo. Cristiano, entretanto, está em forma, talvez não tenha o que tinha do ano x ou y, mas é sabido que não damos aos nossos a oportunidade de abandonarem, com dignidade e solidariedade, uma carreira de desgaste rápido. Não damos tempo.

Toda a vida ouvi dizer que o futebol são as pessoas. Algumas das nossas, o nosso “tuguismo” básico, revestem-se do pior que existe na condição humana. É miserável. E mesmo que o capitão da Seleção nos dê mais alegrias, e essas almas possam virar o bico ao prego, não há volta a dar, a merda está feita. Porque é daí que alguns portugueses preferem ver a vida.

Quanto ao capitão, resta dizer isto: não te merecemos. Há quem diga que o futebol é uma metáfora para a vida. Se for, ainda bem, eu cá não pesco nada, mas não cuspo na mão de quem me deu de comer.

P.s.: Se Portugal ganhar na sexta, e Cristiano Ronaldo for decisivo, isto muda tudo, né?