Há quem cultive transmitir a imagem que quer dar de si através do que está inscrito na tee-shirt que veste. Agora, há uma urgência: a máscara que usamos. É um desafio certamente inesperado para os estilistas: explorar tecidos e padrões para a máscara que, tal como a tee-shirt, tenderá para ser um espelho de quem a usa. Claro que muitos de nós ficaremos pela máscara cirúrgica barata de sempre, sem sofisticações, feita com papel plastificado. Mas todos nós com o dever, sem transigências, de usarmos máscara, em respeito por nós e pelos outros. Usarmos todos a máscara é decisivo para que daqui a duas semanas não tenhamos de estar todos num depressivo retrocesso.

Já não há qualquer dúvida sobre a inevitabilidade de termos vida diferente depois desta pandemia que é a maior crise global desde a Segunda Grande Guerra.

A História ensina-nos que, a par das guerras e das revoluções, as pandemias são geradores de transformação. No caso das pandemias, geralmente, com efeito de sociedade mais coesa.

Resta saber que profundidade terá esta mudança e o que é que dessa transformação vai ficar duradouro.

Todos temos a noção de que em todos os países vai ser, e já está a ser, decisiva a intervenção protetora do Estado, também como motor do novo começo.

Portugal vai ter o Serviço Nacional de Saúde outra vez muito fortalecido. Mas ainda está para se saber se o reconhecimento social do pessoal sanitário, os novos heróis, terá paralelo em compensação económica e qualificação profissional. O que já sabemos é que em todos os países está a ficar demonstrado como é vital a força do serviço público de saúde.

No tempo imediatamente a seguir à anterior grande calamidade global, a da Segunda Grande Guerra, os cuidados de saúde foram reforçados, ao mesmo tempo que o crescimento da economia, muito impulsionado pelo Plano Marshall para reconstrução da Europa Ocidental impulsionou o simultâneo robusto crescimento económico, a ampliação da classe média e o desenvolvimento do modelo de bem estar social. Poderemos ter no horizonte algo assim?

É devido lembrar que a generosidade do presidente Truman e do Congresso dos Estados Unidos ao aprovarem, em 1947, a doutrina que desenvolveu o Plano Marshall também tinha a intenção de defesa de interesses próprios: estava em causa estancar a expansão da União Soviética pela empobrecida e convulsa Europa do pós-guerra.

Agora, ninguém conta com alguma espécie de ajuda relevante por parte dos EUA. Mas a União Europeia tem esta semana, na cimeira dos 27, a grande oportunidade para se tornar uma força que conta.

Vai tudo depender muito da audácia de Angela Merkel e de ela querer um lugar de relevo na História. Há alguma esperança, ainda que não muita, de um compromisso que tenha grandeza solidária.

A resposta da União Europeia é, todos sabemos, decisiva para termos a graduação do impacto do novo desemprego e da perda de rendimentos. E da capacidade para recuperação rápida e geração de alternativas. São incógnitas que metem ansiedade sobre o futuro próximo e que determinarão o horizonte das novas gerações, já sacrificadas pela crise da primeira metade desta década.

Qualquer que seja a energia metida na determinante resposta política, também já sabemos que vamos lidar com mudanças nos comportamentos.

Há que esperar hipocondria social. O temor de contágio vai marcar o nosso dia a dia, com muitos de nós a evitarmos aglomerações e a condicionarmos os contactos físicos. É de esperar algumas relutâncias à frequência de espaços fechados muito concorridos – muitos voltarão a ir, outros não. Portanto, com consequências sobre o modelo de ócio.

A mobilidade também pode ter tempos novos. A bicicleta como o andar a pé juntam ao benefício de saudável atividade física o escapar a autocarros e carruagens com as pessoas umas em cima das outras.

É de esperar que esta crise mude um pouco o que pensamos sobre crescimento e desenvolvimento. Com a vontade de um modo de vida mais sustentável, escolha nossa que terá de se repercutir sobre os decisores políticos.

Quando ouvirmos o conjunto dos cientistas a alertar para as consequências das alterações climáticas, muitos passarão a deixar a muita indiferença de até aqui.

A política nestes tempos recuperou simpatia quando optou por decidir com base no conhecimento de quem sabe, no caso, os cientistas.

VALE TER EM CONTA:

A emergência com o vírus mostra-nos o que ganhamos com menos carros nas cidades.

A enorme baixa de poluição nas cidades espanholas.

O Brasil desespera com esta “escalada da insensatez”.

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