Era um pretexto como qualquer outro, desta vez com looks escolhidos a dedo. E, assim, o Manuel apareceu de príncipe árabe, o João Miguel de padre confessor, a Max de Pipi das Meias Altas, a Amélia de Sorriso, a Patrícia e a Carla de assaltantes da Casa de Papel e por aí fora, numa sucessão de gargalhadas e abraços (excepção para a Ana Filipe que veio de vestido preto, muito linda, mas escusando-se à coisa do carnaval). Quando o Covid-19 nos atingiu e tomou estas proporções, um cenário inimaginável para este grupo de amigos, o nosso anfitrião, João Miguel, o homem que organizou o jantar em versão venham-mascarados-ou-não-mas-venham, mudou o nome ao grupo e as mensagens passaram a ser diárias. É um farol de sanidade, chamo-lhe eu, porque é a primeira coisa que faço quando acordo, vou ver quem está acordado, vou dizer bom dia, vou partilhar informação ou graça.

Hoje foi dia de partilhar o cartoon que mostra o lobo mau na cama e a capuchinho vermelho à janela a dizer: avozinha, deixo a cesta à porta, sim? E a avozinha, ou melhor, o lobo disfarçado de avozinha, pensa com tristeza: merda para o Covid-19. Pois, concordámos todos, e a seguir ficámos a saber o que o Sérgio e a Mari vão almoçar, o estado da lareira da Ana Teresa, os planos da Rosário e por aí fora. Esta é, nos dias que correm, uma das minhas redes de afecto. Sei que estas pessoas, algumas que me eram mais próximas do que outras, serão as minhas pessoas para resto da minha vida. Estão aqui num momento importante, importam-se comigo, agradecem e partilham, dão alento e novidades, fazem com que tudo isto possua um certo sentido do humano, que é o que falta. Também sei que cairemos nos braços uns dos outros, que entraremos no nosso restaurante de eleição, recebidos pelo Fernando, pela Carla, pelo Miguel Ângelo e pelo Hugo, com sorrisos e com a melhor comida do mundo. E seremos felizes, porque nós não sabíamos que éramos tão importantes uns para os outros, mas agora sabemos. E que bom vai ser quando jantarmos juntos, em breve.