Ainda bem que se lembram, esta crónica serve para vos dizer que não pode ser apenas mais uma imagem, com impacto, pois sim, é um assunto sério e que não terminou naquele dia. As horas que os técnicos ali estiveram, em silêncio, olhando para as ditas caixas, quase metaforicamente caixões a lembrar a proximidade da morte, não podem ser notícia por um dia.

Este sector, com mais de três mil empregados e dando emprego indireto a outros tantos, constitui-se numa associação, pondo de lado a ideia de serem concorrentes. A associação tem 170 associados, empresas que fazem, montam, produzem eventos e espetáculos, as pessoas invisíveis que permitem que se oiça alguém cantar, uma pessoa numa conferência na Web Summit (e estou aqui a lembrar este evento porque quando for hora de o montar vamos precisar deste sector como de pão para a boca e quem sabe se os teremos para contratar? Eu não tenho a certeza). São a malta dos bastidores, os primeiros a chegar, os últimos a sair. São os feiticeiros de Oz que fazem as coisas acontecer.

Depois da manifestação silenciosa, a associação reuniu com o governo e ficou com a ideia de que o futuro não lhes pertence. Há uma semana, enviou uma carta ao Presidente da República, como último recurso, pedindo com delicadeza que ajude a que o futuro também possa ser feitos por estes profissionais. Explicando que, à conta da pandemia, do confinamento, das regras e tudo o mais que se sabe, perderam-se mais de 80 por cento de actividade no primeiro semestre deste desgraçado ano de 2020. Os salários, os impostos, os leasings das máquinas compradas e de outro equipamento, as rendas de escritórios e de armazéns correm o risco de não serem cumpridos agora, a partir deste mês de Agosto. Não é uma hipótese teórica, a associação elaborou um inquérito e mais de 56 % dos associados diz que não tem tesouraria.

Nada disto é de somenos, não vale a pena dizer que é mais um sector que está em crise. Há vários, sabemos que sim. Todos precisam de apoio e todos precisam de alento, saber que quando isto – seja isto o que for – retomar, o trabalho existirá e será cumprido com o mesmo zelo e profissionalismo de sempre. Não é uma questão cultural, não se foquem na vertente dos espectáculos, por favor, é uma questão económica e, pelos vistos, o governo também não estudou este dossier. Tenhamos esperança num salva-vidas chamado Marcelo? Sim, tenhamos, por favor.