Enquanto nós estamos em 2018, Feliciano já está em 2118. Enquanto nós nos arrastamos no país dos doutores, Feliciano vive no país dos visiting scholars. É verdade, às vezes as pessoas confundem-se, não se recordam bem do sucedido, misturam datas, geram memórias a partir de sonhos. Talvez Feliciano não tenha sido de facto investigador numa universidade californiana, talvez tenha considerado que uma universitária com californianas era de investigar (no Instagram). Não nos podemos esquecer que estamos a falar de um académico profícuo. É que Barreiras Duarte inclui no seu currículo a publicação “Obrigado, Scolari” na prestigiada revista científica “Ripa na Rapaqueca”. Um paper que a investigação académica carecia há anos, desde o conflito do treinador brasileiro com Vítor Baía, diria. Felizmente temos a sorte de ser contemporâneos deste visiting Scolari, perdão, scholar

Se há poucas razões para crer que Barreiras Duarte alguma vez esteve na Califórnia, não é justo dizer que o deputado não gosta de viajar – ou pelo menos do dinheiro das viagens. Barreiras Duarte, enquanto membro do parlamento, apesar de residir na Avenida de Roma, usava a morada da casa dos pais e recebia despesas de deslocação até longínqua vila do Bombarral. Segundo o Observador, um deputado da zona de Leiria recebe entre 900 e 1000 euros em despesas de deslocação. Ainda assim, de acordo com a Via Michelin, cada viagem ao Bombarral custa apenas 13 euros, com combustível e portagens. Completando ida e volta todos os dias úteis e mesmo assim só se gastam uns 500 euros por mês. E provavelmente Feliciano só ia à terra nos feriados religiosos, pelo que só justificaria o subsídio se fosse com o carro em primeira. Esperemos pelo menos que tenha oferecido boleias.

Feliciano foi também presidente do Instituto Científico das Migrações. Um instituto tão dedicado a investigar o fenómeno que terá em si migrado para o espaço sideral, porque em lado algum existe uma referência a tal organização. Falamos ainda de alguém que teve o privilégio de ser conselheiro económico do município de Anfhn, na China - município esse que, não querendo ser redutor, do ponto de vista geográfico efetivamente não existe. O que é Anfhn? Uma sigla que só visiting scholars têm a capacidade de decifrar? A Gotham do Batman chinês? A onomatopeia que Barreiras Duarte emite quando a esposa pergunta se já foi levar o lixo lá fora? Não sabemos.

Pelo que se percebe da introdução e de alguns trechos da tese de Feliciano Barreiras Duarte, facilmente conclui-se que há lorem ipsums mais profundos do que o corpo de texto do bombarralense. Agora, verdadeiramente escandaloso é o facto de Barreiras Duarte ser sócio de um restaurante de dieta paleo. Uma coisa são pormenores de currículo, outra é aldrabar descaradamente as pessoas.

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