Uma das grandes dúvidas que assola a maioria de nós é a seguinte: será que vamos ter férias de verão e se sim, como serão? Claro que também temos a questão das mortes e do desemprego, mas isso são assuntos menores face à perspectiva de não termos os nossos 15 dias de praia em Agosto. À partida, férias no estrangeiro é para esquecer, por isso foquemo-nos em ir para fora cá dentro, esperando que não seja dentro de casa com uma segunda ou terceira onda de pandemia.

Muitos de nós rumarão ao Algarve, estará diferente, cheio de portugueses e com poucos estrangeiros. Investir no que é nacional será fazer férias em Portugal e privilegiar produtores e marcas portuguesas, mas estender-se-á a ter um amor de verão ou uma one night stand com alguém da nossa nacionalidade? Parece-me um bocado perigoso e a roçar o nacionalismo xenófobo. Agora não se vai fazer amor na praia com uma sueca só porque queremos dar ênfase à economia nacional? Parece-me errado. Depois, teremos matéria prima nacional para fazer face a toda a procura da nossa economia? Quando falo em matéria prima, estou a falar de mulheres que queiram dançar semi-nuas em cima das colunas e balcões dos bares e discotecas, algo reservado quase na totalidade para inglesas emancipadas/alcoolizadas. Será que os bares e discotecas estarão abertos no verão? Parece-me ridículo não abrir a chamada Rua da Oura em Albufeira porque se fosse por causa de vírus transmissíveis já teria sido fechada há muito.

E como serão as idas à praia? Há quem brinque que haverá um sistema de senhas, cadeiras com cronómetros, entre outras sugestões, mas esperemos que não seja uma espécie de inscrição e reserva online simplex, pois se for convém começar já a preencher impressos para termos a burocracia toda tratada e aprovada para irmos fazer praia dia 23 de Agosto das 15h15 às 15h55 na Praia da Rocha. No entanto, o que podemos ter a certeza é que vamos ter praias mais vazias e com maior distanciamento entre toalhas. Ainda falam mal da Covid. Finalmente haverá uma lei que impede que chegue uma família que com o areal todo disponível coloca o estaminé mesmo em cima da nossa toalha. Além disso, muitas coisas serão diferentes:

  • Veremos menos corpos trabalhados, dado que não há ginásio desde Março.
  • Nadadores salvadores não poderão salvar-nos do afogamento porque o distanciamento social é importante e a respiração boca-a-boca com máscara não funciona.
  • O nudismo ficará mais na moda pois ao usar máscara ninguém nos reconhece e sentimo-nos mais à vontade de andar com as pendurezas ao léu. Ficaremos bronzeados sem marcas dos calções de banho nem do biquíni, mas teremos uma marca na cara.
  • Em vez de bola de Berlim, os vendedores vão apregoar em alto e bom som “Olha a máscara cirúrgica, há com creme e sem creme” e “Temos água, coca-cola fresquinha e álcool-gel.”
  • Em vez de pareos, haverá vendedores ambulantes de máscaras comunitárias.
  • Haverá novo sistema de bandeiras, com a nova bandeira azul bebé que será hasteada para provar que naquela praia ainda não houve nenhum infectado. Praia de bandeira azul bebé serão as mais procuradas.
  • No meio das beatas e lixo, vão ser encontradas máscaras na areia. “Cuidado que ainda pisas uma seringa infectada”, bordão usado por muitas mães, passará a ser “Cuidado que ainda apanhas covid numa máscara na areia”.
  • Os praticantes de pesca submarina dispararão arpões a máscaras a pensar que são chocos. Isto para não falar que vamos estar na água e sentir qualquer coisa a tocar-nos, saltar encolhidos a pensar que é uma alforreca ou caravela portuguesa, mas afinal é só um dispositivo de protecção individual que alguém decidiu doar aos golfinhos.
  • Vamos ouvir mães a gritar com os filhos pequenos “João Miguel, anda cá à mãe meter creme e passar álcool gel nas mãos” e “Não podes ir à água, ainda não fizeste a incubação, só daqui a três dias.”
  • As fotos dos pés na areia serão substituídas por fotos de óculos escuros, máscara e biquíni.
  • Frases feitas para descrições de fotos do Instagram a mostrar o corpo na praia também vão sofrer alterações e um exemplo é que agora terá de se usar esta “A melhor curva do corpo de uma mulher é o seu sorriso por trás da máscara cirúrgica”
  • Haverá alguém que diz “Não, eu não meto protector, se morrer de cancro na pele morri, mas com a covid é preciso cuidado”, enquanto apaga um cigarro na areia.

Estas e outras mudanças farão parte da nova normalidade de que tanto se fala. Boas férias e usem protector solar.

Para ver: "Snowpiercer", na HBO