Volta e meia — como quem diz, dia sim, dia não —, lá aparece mais uma notícia de uma festa com aproximadamente mais 980 pessoas do que seria aconselhável. Ou é num parque de estacionamento em Carcavelos, ou é numa rua de Loures, ou é nas Docas de Lisboa, ou até numa casa privada da Comporta, onde, de certeza, estavam só a brincar aos pobrezinhos (lembram-se? Que clássico. Se não se lembram, metam aí no Google: "Cristina Espírito Santo – brincar aos pobrezinhos". Sempre bom.).

É fácil julgar logo as pessoas, principalmente porque são maioritariamente jovens, pela sua irresponsabilidade cívica e falta de respeito pelas vidas alheias, sejam dos doentes, ou possíveis doentes, como dos profissionais de saúde que continuam diariamente na luta. E com razão. Mas também não consigo deixar de entender o desejo de convívio e festa destas pessoas que as faz dizer “é pá, isto já passou” ou “não aguento mais, quero é os festões de volta”.

Calma. Não comecem já aí a berrar “Ó Diogo! Nem parece teu! Então não vês qu’ isto é uma vergonha e esta juventude só vai lá à chapada?”. Relaxem. Eu não concordo com as festas, só disse que compreendo. Quem é que não tem saudades de grandes festas? De festivais? De sair à noite? Bem, na verdade, muita gente não tem porque, legitimamente, já não gostavam muito disso. Mas eu sou dos muitos que tem.

Andar de rojo pelos festivais, de concerto em concerto, de bar em bar, a abraçar amigos e desconhecidos? Dá-me anos de vida. Agora, infelizmente, o corona ainda anda aí e anda com força. Ainda mata, ainda impede que se realizem uma data de actividades importantes para milhões de pessoas, sejam profissionais ou lúdicas. E o convívio é das coisas mais importantes da existência humana, que nem tentemos dizer o contrário. Mas dada a situação, no mínimo, peculiar, da História que vivemos, será que não conseguimos aguentar mais uns meses sem as grandes festas e festivais? É que, pelo menos para já, ainda conseguimos jantar em casa uns dos outros, ou ir a restaurantes, e fazer festas com poucas pessoas. E já é óptimo! Dá na mesma para beber shots de whisky pelos olhos e tentar discutir política a seguir, usando os mesmos argumentos que se usam para falar da receita de ervilhas com ovos. Mas num instante isto rebenta novamente com as cadeias de contágio a propagarem-se mais rápido que fake news, e nem as pequenas festas podemos fazer porque, entretanto, descambámos em orgias de covid.

Portanto, festejemos com moderação. Não digo o festejar em si, que isso acho óptimo que se estraguem todos, que conversem até não terem voz, que dancem até vos caírem os braços e as pernas. Façamo-lo só em grupos mais pequenos, vá.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Cucavida: já saiu o álbum dos Cuca Monga (Zarco, Capitão Fausto, Luís Severo, Ganso, Rapaz Ego. Lindíssimo.

- O Mundo em Chamas: excelente livro de Naomi Klein.