Os eleitores franceses disseram que querem os ecologistas a gerir cidades importantes como Lyon, Bordéus, Estrasburgo e muitas outras. Também mostraram confiança na liderança de mulheres: já havia Madame le maire em Paris (a socialista Anne Hidalgo agora reforçada e a anunciar “Paris cidade ainda mais verde”) e Lille (onde a socialista Martine Aubry superou à tangente um candidato ecologista), agora passou a haver mulheres na liderança de cidades principais como Marselha, Estrasburgo, Nantes, Rennes, Besançon ou Poitiers.

Este crescimento dos ecologistas/verdes traz uma outra novidade, a da formação de uma frente de esquerdas que inclui sobretudo os socialistas mas também os comunistas, os insubmissos e outras formações à esquerda. Nos últimos anos a esquerda francesa mostrou-se fragmentada, definhada, perdida em conflitos fratricidas. Foi especialmente notório o colapso dos socialistas, após épocas de maioria absoluta, com Mitterand e até com Hollande. Agora, a esquerda volta a entender-se entre si e associa-se aos ecologistas para uma alternativa ao débil centro de Macron, à direita moderada que segue sem figuras carismáticas e à direita radical de Marine Le Pen. Esboça-se mesmo entendimento para um candidato presidencial dessa frente ampla do social-ecologismo. Fala-se de Nicolas Hulot e de Anne Hidalgo entre as possíveis candidaturas.

O facto político desta alternativa social-ecologista é relevante por ser novidade e por ter expressão nas cidades com mais de 100 mil habitantes, mas há que considerar que a maioria das mairies de França continua liderada pela direita moderada dos Republicanos. Esta direita perdeu dois bastiões, Marselhe e, sobretudo, Bordéus, mas continua a conduzir a política na proximidade dos territórios rurais.

A extrema-direita de Marine le Pen não consegue impor-se em eleições locais. Tem expressão forte nas eleições presidenciais, legislativas e europeias mas fracassa nas municipais. Desta vez, conseguiu vencer em apenas uma das cidades com mais de 100 mil habitantes, Perpignan. O que não significa que Le Pen esteja a perder peso político. Ela lidera as sondagens para as presidenciais, embora ainda faltem dois anos para este voto.

Os eleitores franceses estão a mostrar hostilidade aos sucessivos líderes nacionais. Era tradição em França os presidentes serem reeleitos, mas neste século tudo mudou: Sarkozy foi derrotado na tentativa de reeleição, Hollande viu o cenário tão mau que nem ousou candidatar-se e, agora, Macron, apesar de se multiplicar em iniciativas, apesar de conseguir liderança europeia ao lado de Angela Merkel, está com baixíssima cotação em França e nestas municipais em que o partido que criou (LREM, La République em Marche) se estreou, falhou quase todos os objetivos com derrotas expressivas, como a de Paris. A única vitória relevante na órbita de Macron é a de Edouard Philippe, primeiro-ministro também eleito na cidade portuária do Havre, com 59% dos votos. O crédito deste resultado parece afastar as especulações sobre o afastamento de Philippe na remodelação ministeral que se anuncia iminente. Os resultados destas municipais mostram a Macron que a França está virada para a vida ecológica. Um sinal nesse sentido veio logo nesta segunda-feira seguinte às eleições, com Macron a anunciar o financiamento de 15 mil milhões de euros ara projetos dedicados à transformação ecológica. Provavelmente, também vai tentar voltar a incluir ecologistas (o carismático Hulot demitiu-se em agosto de 2018 do cargo de ministro para a Solidariedade e Transição Ecológica, com queixas por em 15 meses de mandato não ter tido meios para as mudanças que defende). Vão ser intensos os próximos tempos políticos em França.

Também na Polónia há evoluções a considerar: o eleitorado europeísta, defensor de modelo liberal de sociedade aberta, impôs ao presidente ultranacionalista que se recandidata a necessidade de segunda volta da eleição presidencial, em cenário de, nessa finalíssima, empate técnico. Há meia dúzia de meses ninguém ousava admitir que o candidato do regime pudesse ser posto em causa. Os dados mostram que isso está em aberto na finalíssima em 12 de julho.

O que é que mudou na Polónia? Trzaskowski, como presidente do município de Varsóvia (tal como os líderes autárquicos de Cracóvia, Gdansk e outros) soube interpretar as aspirações de valores de liberdade que caracterizam a sociedade europeia. Está evidenciado que há na Polónia muita gente que deseja que o país seja uma democracia normal. Aparentemente, metade do eleitorado. As próximas duas semanas, até à decisão final em 12 de julho, justificam que haja foco na Polónia e nas especificidades deste país.   

A TER EM CONTA:

A pandemia continua a ameaçar cada um de nós. Mas o caso português continua incomparavelmente mais controlado do que nos países vizinhos.

A República da Irlanda também alinha na vaga verde.

Álbuns musicais que vale ter em conta.

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