Os dias têm sido ocupados em diferentes funções, a ERCI está presente no campo de refugiados de Kara Tepe 24 horas por dia e desenvolve ainda um importante trabalho no campo de Moria, bem como na vigia da costa ao longo da noite, de forma identificar novos barcos com pessoas a fazer a travessia entre a costa turca e a costa grega. Isto porque a ilha de Lesbos encontra-se bastante perto da Turquia, a cerca de 12km, pelo que se torna num dos pontos mais procurados para entrar na Europa.
Em Kara Tepe encontram-se essencialmente famílias e o campo tem sofrido melhorias significativas para que possa oferecer condições mínimas de higiene e conforto aos que se encontram lá. As famílias têm acesso a comida, casas de banho públicas, posto de saúde e, recentemente, a ERCI instalou no campo uma lavandaria. No entanto, ainda que se espere que a presença destas famílias no campo seja temporária, não é possível garantir uma situação ideal de higiene e de privacidade, algo agravado pelas altas temperaturas que se fazem sentir nesta altura do ano.
Ora, se durante a noite a função dos voluntários passa por serem uma presença constante no campo, zelarem pela segurança deste e estarem disponíveis para alguma eventualidade que aconteça de forma inesperada, durante o dia são garantidas atividades para as crianças, homens e mulheres, onde as ONG's presentes trabalham em parceria e articulam-se para que as principais necessidades sejam asseguradas.
Estas parcerias são fundamentais, ainda para mais em situações de emergência, e devem ser o foco do trabalho das organizações presentes no campo, não só como forma de potenciar os recursos existentes (que por vezes são escassos), mas também como meio para uma efetiva partilha de práticas e de atividades. Pode parecer óbvia esta questão, mas quantas vezes não vemos — e basta olhar para a situação portuguesa — organizações no mesmo lugar e com objetivos semelhantes a trabalharem “de costas voltadas”?
Esta consideração do “tempo” que falava inicialmente é, no entanto, bastante variável, e tem sido das questões que mais reflexões me tem motivado ao longo dos últimos dias. Se para mim esta semana passou rápido, acredito que o mesmo sentimento não seja partilhado pelos que estão no campo, na medida em que anseiam, todos os dias, por uma resposta sobre o destino das suas vidas e da prossecução dos seus planos.
No segundo dia que estive em Kara Tepe conheci um rapaz sírio, que me contava que já estava no campo há 8 meses e dizia estar “cansado” daquela situação. De não saber para onde irá nem o que o espera, de a sua vida estar em suspenso, “à espera”.
Foi das primeiras impressões que tirei desta semana e um dos primeiros impactos: o tempo é algo variável e urgem tomadas de decisões efetivas.
Afonso Borga tem 22 anos, é licenciado em Serviço Social e apaixonado por causas humanitárias. Durante os meses de agosto e setembro, e após outras experiências de voluntariado, estará num campo de refugiados em Lesbos (Grécia) com a ERCI, uma ONG grega, e irá relatar ao SAPO 24 essa experiência através de crónicas que poderá ler aqui:
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