Nos últimos dias, e à medida que vou conhecendo cada vez mais as pessoas e as histórias de vida dos que estão presentes no campo, ouvir constantemente a palavra “refugiado” tem-me causado alguma confusão. Receio que esta sucessiva utilização da palavra possa levar à banalização e desumanização, não só da definição da palavra, mas, e acima de tudo, das pessoas em causa.
Assim, aproveitando que no passado sábado (19 de agosto) se comemorou o Dia Internacional Humanitário, que esta semana se voltou a relacionar a ocorrência de atentados terroristas com a crise e acolhimento dos refugiados e porque estes artigos servem também o propósito de desmistificar e esclarecer conceitos e ideias que se têm sobre os refugiados, considero pertinente dedicar algumas linhas que nos permitam compreender melhor a “história” que envolve as histórias destas pessoas.
Importa então esclarecer que, por definição do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), os refugiados são pessoas que escaparam de conflitos armados ou perseguições. Ora, com frequência, a sua situação é tão perigosa e intolerável que acabam por cruzar fronteiras internacionais em busca de segurança nos países mais próximos, tornando-se assim num “refugiado” reconhecido internacionalmente, com o acesso à assistência dos Estados, do ACNUR e de outras organizações.
São reconhecidos como tal, precisamente porque é muito perigoso para eles voltar ao seu país e necessitam de um asilo em algum outro lugar. Deste modo, para estas pessoas, a negação de um asilo pode ter consequências vitais. Segundo dados do ACNUR do passado mês de Junho do presente ano, existem cerca de 10 milhões de pessoas apátridas (que não são titulares de qualquer nacionalidade), a quem foram negadas a nacionalidade e consequentemente o acesso a direitos básicos como a educação, saúde e liberdade de circulação.
Ao olharmos para estes mesmos dados, constatamos que existem hoje mais de 65 milhões de pessoas em todo o Mundo que se viram obrigadas a sair das suas casas. Entre este número estão, aproximadamente 22,5 milhões de refugiados, mais de metade dos quais com menos de 18 anos.
Percebemos que este cenário tem tendência para se agravar quando, segundo os mesmos dados, por minuto, 20 pessoas são forçadas a abandonar os seus lugares em resultado de um conflito ou perseguição.
Deste modo, apesar dos medos e receios que possam estar subjacentes ao acolhimento de refugiados, acredito, com mais certezas, que dificultar ou recusar o acolhimento destas pessoas que tudo perderam, em virtude da existência de supostos riscos, constituiria um golpe fatal na nossa civilização humana.
Afonso Borga tem 22 anos, é licenciado em Serviço Social e apaixonado por causas humanitárias. Durante os meses de agosto e setembro, e após outras experiências de voluntariado, estará num campo de refugiados em Lesbos (Grécia) com a ERCI, uma ONG grega, e irá relatar ao SAPO 24 essa experiência através de crónicas que poderá ler aqui.
Comentários