Tivemos senhores, como o Nuno Melo, José Pinto Coelho e alguns dos habituais cronistas do Observador, severamente irritados com a Greta Thunberg. Neste caso, não foi bem uma luta porque por mais cartas abertas e tweets que tenham escrito, a Greta não leu absolutamente nenhum deles. Portanto, foi mais ficarem a espernear sozinhos enquanto a Greta passava no seu barquinho.

Também tivemos a luta do André Ventura contra a sua própria espinha dorsal, da qual saiu vitorioso porque é tão contorcionista que podia estar no Cirque du Soleil, sem que os seus eleitores se incomodem minimamente com estarem a ser ludibriados. Até gostam.

E entre muitas outras, tivemos a aguerrida luta entre os que partilharam alegremente aquelas que foram as suas músicas mais ouvidas no Spotify em 2019, e aqueles que fazem questão de dizer publicamente que ninguém quer saber dos tops musicais dos outros, para todas as pessoas que com certeza querem saber desta sua valiosa opinião.

Eu percebo a indignação destas últimas. Estar a usar as redes sociais para partilhar cultura com amigos e desconhecidos não faz o mínimo sentido. Partilhar música, para se ficar a conhecer novas bandas, cantoras e cantores, estilos musicais? Ridículo. Partilhar livros, para conhecer novos livros, edições, autores, pensamentos? Absurdo. Filmes, séries, documentários, exposições e por aí adiante, creio que já perceberam. Se há dezenas de filtros hilariantes com os quais brincar e tirar selfies, para que é que havemos de ocupar espaço internético com banalidades como cultura que só nos cansam o cérebro? A vida já é cansativa o suficiente fora das redes sociais, para ainda ter que estar a levar com citações do Chomsky, do Rilke ou Bukowski, ou para me sugerirem que oiça o novo álbum dos Parcels ou a mais recente gravação da 3ª de Brahms pela Sinfónica de Berlim, ou que me falem sobre as emoções que sentiram a ver o Joker ou o Toy Story 4. Poupem-me. As redes sociais são apenas para manifestações narcísicas desprovidas de qualquer conteúdo relevante. Querem cultura vão para a Gulbenkian, não é para o Instagram.

Posto isto, fica claro que ganhou esta luta quem usou as redes sociais para dar a sua opinião sobre o facto de ninguém querer saber da opinião dos outros. Agora é tirar as selfies da vitória.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Releiam a crónica: têm lá uma data de sugestões.