A três anos do fim da legislatura, começa a sucessão no PS. Há dois presuntivos herdeiros legitimários que não se dão lá muito bem à procura da fatia da herança de António Costa que interessa. Apesar de parecer que falta muito para a morte política de Costa, a verdade é que já se inventaria o seu espólio: a liderança do PS e, dada a suave oposição do PSD, a forte possibilidade de vir a ser o próximo primeiro-ministro.

De um lado, temos Fernando Medina, a quem António Costa já fez uma doação em vida: a Câmara Municipal de Lisboa. Vê o PS mais ao centro do que o outro descendente e tem aquilo que já se provou ser a credencial mais importante para um político com ambições: um espaço de comentário na televisão. Recentemente, atirou-se às autoridades de saúde, simultaneamente ajudando o ainda chefe de família e a si próprio, navegando uma onda populista, que tem vindo a aumentar de volume, de que a culpa da situação da pandemia é dos técnicos e não do governo.

Esta semana, escreveu um artigo para o The Independent, cujo título que aludia a uma suposta vontade do edil de "acabar com o Airbnb". O título já foi corrigido. Medina deverá ter ligado para Londres dezenas de vezes, cheio medo de ser confundido com um socialista.

Do outro lado, Pedro Nuno Santos, ex-jovem turco, ex-proprietário de um Porsche. Tem responsabilidades no executivo, o que lhe dá estatuto, mas também desgaste (como os Porsches descapotáveis). Tentou liderar o processo TAP de forma musculada (e músculos não implicam sagacidade) e parece um pré-adolescente a mostrar aos amigos as suas novas miniaturas, agora que conseguiu comprar uma série de carruagens espanholas na feira da Ladra lá do sítio.

Ontem, possivelmente incomodado com o facto do seu adversário assinar um artigo num jornal internacional, foi para o Twitter contactar, não com as suas bases, mas com os utilizadores da rede social que disseram coisas pouco simpáticas dele. Talvez esteja há pouco tempo na plataforma, mas rapidamente compreenderá que o Twitter não serve para falar bem de ninguém. O que é certo é que foi eficaz: depois do Paulinho das feiras, poderemos ter assistido ao nascimento do Pedrito dos Tweets.

Em 2018, António Costa disse que não tinha “metido os papéis para a reforma”. Dois anos depois, possivelmente continua sem o ter feito, mas em princípio já estará a pesquisar locais nos quais desfrutará de sua aposentadoria: talvez ali perto do rio, em Belém e num palácio, quem sabe. Até lá, há tempo para redigir o testamento. Como os clichês dos policiais nos dizem, nem sempre é óbvio quem é o herdeiro favorito.

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