Comuniquei à produção que gostaria de ser eu a fazer aquele papel e depressa me informaram que teria de fazer um pequeno teste com o Nicolau. Pensei em desistir, a vontade de entrar na série não era maior que o stress de estar em frente ao Nico a demonstrar um skill que não possuía. Por outro lado, já estava pedida a “audição”, deixando-me sem outro remédio. Fui aos estúdios e disseram-me para esperar um bocadinho numa sala, que o Nicolau já lá ia ter comigo.

Quase 10 anos depois, não me recordo de ter estado outra vez tão nervoso como naquela tarde. Percebam isto, eu não estava nervoso por mim, eu já nem queria saber daquele pequeno papel. O que eu não queria era fazer figura de parvo em frente àquele que considerava ser o melhor actor português, ou fazê-lo perder o seu tempo. Numa sala de quatro metros quadrados, com ele sentado à minha frente, de guião na mão, batemos todas as falas da minha personagem. No final, depois de me perguntar pelas minhas ambições de carreira, sorriu e disse-me “podes vir fazer na segunda-feira”.

Eu só queria não me enganar, ele só queria que eu ficasse feliz, apesar de na altura, não ser claramente a escolha ideal para o papel.

Voltámos a encontrar-nos anos mais tarde, quando foi o meu entrevistado no episódio do Alentejo do Gente da Minha Terra. Recebeu-me com a generosidade do costume, no seu camarim, minutos antes de um espectáculo a solo no Casino de Lisboa. Novamente, ele calmíssimo, e eu nervoso por estar na sua presença. Dizia ele que “ter de ter graça é cansativo”. É, muito. Mas mais vale passar uma vida cansado, do que parar de criar, de inovar e de tentar (e de conseguir, tantas vezes) como ele.

Nicolau Breyner era um homem amado pelo público e também pelos colegas. Notável e invulgar.

No entanto, o que lhe invejo não é a vida. É a morte. Adorava poder um dia morrer como ele: lúcido, válido, no campo e em acção. A mexer. Sempre a trabalhar.

Que luxo, Nico! Até sempre.