Pouco passava das 6:00 quando fomos surpreendentemente acordados com a informação de que fora avistado um barco e, portanto, teríamos de estar prontos em escassos minutos para sair em direção a um dos possíveis locais de chegada do mesmo. Vesti prontamente a camisola amarela fluorescente que nos identifica enquanto voluntários e saí a correr de casa em direção aos jipes que se encontravam já prontos para nos transportar para a praia. As viaturas estão sempre equipadas com o material necessário para o apoio à chegada dos barcos, incluindo material médico.

Na semana anterior tínhamos tido uma intensa formação sobre como se processa o apoio aquando da chegada de um novo barco e, com ele, de dezenas de pessoas. Alertaram-nos para a necessidade de sermos céleres e eficientes, mas também de demonstrarmos calma e segurança, independentemente do turbilhão de emoções que possamos estar a sentir.

Neste processo é fundamental que a equipa esteja organizada e todos conheçam os passos a seguir, para que não existam falhas e não se coloquem vidas em risco. Os barcos que fazem estas travessias são instáveis. Entregues às condições do mar, transportam muito mais pessoas do que o que era suposto, colocando em elevado risco a vida dos que tentam a sua sorte na fuga de um conflito e na esperança de chegarem sãos e salvos à Europa. Assim, a presença da equipa médica no momento em que chegam novos barcos é imprescindível.

A questão da formação no voluntariado, ainda que muitas vezes seja negligenciada, é extremamente importante, na medida em que permite que o voluntário adquira competências que lhe permitem compreender a especificidade das atividades que irá desempenhar no terreno, bem como assumir o compromisso de respeitar a vida das pessoas que apoia, no que se refere à privacidade, intimidade e confidencialidade. Paralelamente, a formação permite que o voluntário conheça melhor a organização em que presta apoio e se inteire do seu funcionamento e especificidades. Ora, em situações de emergência e salvamento esta questão torna-se ainda mais pertinente. Assim, de forma a garantir o exercício de voluntariado de qualidade, qualquer que seja o domínio de atuação, devemos estar dispostos a aprender continuamente e a organização deve proporcionar a aquisição de competências necessárias.

Após cerca de uma hora na praia, a chegada do barco acabou por não se confirmar, a força da corrente levou-o até ao lado norte da ilha e aí foi acolhido pela Guarda Costeira. Como tinha descrito no último artigo, esta é uma importante parte do trabalho desenvolvido pela ERCI, para além do apoio nos campos de Moria e Kara Tepe.

Faz parte do nosso trabalho estarmos atentos e preparados 24 horas por dia pois, a qualquer momento, a nossa intervenção pode ser necessária. Não esqueço o que um dos coordenadores nos disse na formação: a nossa missão é concretizar a esperança dos que se arriscam nesta travessia e esperam encontrar alguém disponível para os acolher “do outro lado”.

Afonso Borga tem 22 anos, é licenciado em Serviço Social e apaixonado por causas humanitárias. Durante os meses de agosto e setembro, e após outras experiências de voluntariado, estará num campo de refugiados em Lesbos (Grécia) com a ERCI, uma ONG grega, e irá relatar ao SAPO 24 essa experiência através de crónicas que poderá ler aqui.

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