O dia da mulher é todos os dias.

Só que não é. Todos sabemos isso. Mesmo quando fingimos que não.

Convoquei homens e mulheres para várias entrevistas e terminei confirmando que é mais o que nos une do que o que nos separa. O verdadeiro lugar comum ... Estamos cheios de ideias feitas sobre as mulheres (e os homens), dogmas em relação ao género, pressupostos sobre funções e papéis sociais. Nada mais errado. A sociedade está a mudar e as formas como as pessoas se organizam, as relações que estabelecem, os papéis que desempenham, também evoluíram. Há, contudo, muito a fazer em relação ao preconceito, a inveja pequenina, à maledicência que atinge a auto-estima. Mas, também, em relação à presença das mulheres nos cargos de topo e aos salários iguais para funções idênticas.

Que eles ajudam em casa já sabíamos. Que há muitos que se escusam, também. Eu não sabia era que existiam outras mulheres como eu, que se recusam a aceitar a palavra "ajudar" e esperam que a pessoa com quem partilham a casa - e a vida - assuma parte das tarefas mais chatas que existem e que se chamam tarefas domésticas. Descobri outras assim e mulheres, felizes como eu, que têm alguém que entende que, se está sol e tem disponibilidade, pode por a roupa a lavar e estendê-la sem que lhe caia um braço. A todas as outras que lutam contra o estigma, persistam na ideia de que a divisão de tarefas não é coisa de pessoas modernas. É o que é justo quando ambos trabalham.

Nestas entrevistas encontrei pessoas muito disponíveis para abraçar a mudança e um reflexo da forma como o novo normal já está a acontecer. Não apenas pelo facto deles trocarem a palavra ajudar pela palavra fazer mas sobretudo por uma consciência feminina do trabalho que ainda nos espera, bem como o que ainda nos falta alcançar. Percebi também que estamos o caminho certo, para melhorar as relações entre mulheres, tantas vezes competitivas, outras tantas mal compreendidas e raramente produtivas. Nos últimos dois anos senti o meu mundo mudar, especialmente no que respeita ao estabelecimento de relações pessoais e profissionais com mulheres. Descobri várias que compreendem perfeitamente este sentido de união, deitando por terra o estereótipo de que as mulheres não sabem ser amigas ou colaborar entre si. Embora ainda exista quem ache que o feminismo é uma palavra a evitar e quem insinue ser coisa de gajas que odeiam os homens, o caminho deste princípio vai no da irmandade, representando pessoas que têm um mesmo objectivo e que confiam umas nas outras para o alcançarem conjuntamente.

Tive um percurso profissional bastante masculinizado, em contextos e cargos tipicamente masculinos. Fui muitas vezes uma mulher entre homens e orgulho-me de ter sido (quase) sempre tratada como um par e nunca como alguém que estava ali, mas que não pertencia ao contexto. A forma como os homens encaram as relações pessoais e profissionais foi muito importante para o meu crescimento pessoal e profissional. A sua objectividade, pragmatismo, sentido de união e desprendimento ajudou-me a ser uma mulher que consegue pensar no masculino, simplificando aquilo que tantas vezes se complica.

Nos últimos tempos encontrei mulheres dispostas a ajudar-me sem me conhecerem, ou serem minhas amigas porque, simplesmente, são mulheres. As que têm esse sentido do bem comum e estão dispostas a ajudar-se mutuamente para, juntas, crescermos. As mulheres. Sem as invejas que também nos caracterizam. Por isto, deixei de acreditar nestas categorias que encaixam os géneros e os seus comportamentos. Porque neste meu percurso também conheci homens com comportamentos muito conotados com os das mulheres: invejosos, demasiado curiosos, trapaceiros, de mal com a vida e prontos a dificultar a nossa. Creio serem más pessoas. Apenas isso. E isso, faz toda a diferença, independentemente do género. Sejamos pessoas. Boas pessoas. Profissionais. E mulheres.

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