O ministro da Cultura e respectivo secretário de Estado têm prestado pouco, pouquíssimo, para garantir que, por fim, num governo liderado por António Costa, a cultura tem o que na verdade merece. A dupla terrível sofre de um mal, ou de vários, e não tem qualquer salvação. Quando a coisa corre pior para o seu lado perde a autoridade e os agentes culturais, artistas, gestores, etc., batem a porta, e apelam directamente ao primeiro ministro.
Foi assim com o cinema, é assim com o resultado do concurso da Direcção das Artes para apoio financeiro para a área do teatro, música, circo contemporâneo e artes de rua, artes visuais e cruzamentos disciplinares.
Numa carta aberta a António Costa, a tal gente da cultura que, na verdade, deveríamos ser todos nós, diz que a política cultural do Governo “falhou por completo e de forma transversal”. O Governo, perante tanta lamúria, manda dizer que afinal há reforço financeiro: tomem lá mais dois milhões de euros. A ver se a coisa acalma.
O secretário de Estado, que demorou muito tempo a definir os moldes deste concurso e que perante a sua ineficácia mantém a ideia de que o modelo de concurso é bom, pasme-se, parece dizer que ainda há espaço para rever algumas coisas. E, de repente, é uma coisa juvenil, ou mesmo uma disputa infantil: ah, os meninos querem mais e vão fazer um grande alarido? Esperem, esperem que nós mandamo-vos doces.
Desta vez, doces não chegam, as manifestações estão marcadas para amanhã em Lisboa, Porto (o presidente da Câmara Municipal do Porto tem esfregado as mãos com esta polémica e posiciona-se para ficar num pódio de solidariedade e cultura como nenhum outro dirigente), Évora, Coimbra (cidade que ficou sem nenhuma estrutura cultura apoiada pelo concurso para financiamento) e Funchal, às 18h00.
Nunca entenderei a razão que faz com que a cultura seja o parente pobre do governo, deste ou de qualquer outro, sendo que este nem consegue assegurar algumas das condições do passado e mete os pés pelas mãos com o duo fantástico que preside a estes destinos.
O Partido Comunista e o Bloco de Esquerda mostram-se acérrimos defensores dos queixosos. Até há quem volte a dizer que a Cultura deveria beneficiar de um por cento do PIB do país. Há cronistas que pedem a demissão de Castro Mendes, o ministro diplomata e poeta, e de Miguel Honrado. Para mim, vale pouco.
Importa dizer ao primeiro-ministro que não pode contar com os artistas para fins meramente políticos, é preciso dar-lhes condições para servirem melhor o país, enriquecendo a nossa identidade, mostrando como não somos iguais a mais nenhum povo deste planeta. A Cultura como parente pobre num país que tem níveis aclamados de turismo ainda faz menos sentido.
Bom, estou a magicar coisas: imagine-se o que seria uma aposta concertada na Cultura como investimento económico. Isso é que era. Mas não será com este governo, nem com qualquer outro governo. Não importa realmente a ideologia, o mecanismo de funcionamento face à cultura repete-se e é, no mínimo, triste.
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