Afinal, por que existem as empresas? Fiz esta questão a várias pessoas. Todas, de uma forma ou outra, referiram a geração de lucro como um dos principais objetivos. Mas, e há sempre um mas, ficou patente que é necessário (senão urgente) ir para além disso.

A verdade é que a realidade mudou, não só por mero capricho, mas porque as exigências e desafios que vivemos já não nos deixam ficar no caminho que sempre foi seguido e que sempre foi confortável. Os consumidores já não são os mesmos, os colaboradores já não são os mesmos, os investidores já não são os mesmos.

Exemplo disto é o caso de Larry Fink, o CEO da Black Rock, o maior fundo de investimento do mundo (para termos uma ideia da sua dimensão, tem sob gestão um valor equivalente ao dobro do Rendimento Nacional Bruto da Alemanha) que, repetindo a carta que em 2018 e 2019 dirigiu a todos os CEOs das empresas nas quais a BlackRock investe, realçou que em 2020 tomará decisões de investimento sempre com foco na sustentabilidade ambiental, referindo que “a consciência está a mudar muito rapidamente, estamos à beira de uma mudança estrutural nas finanças”.

Sobre o propósito de uma empresa, Charles Handy, um dos mais influentes pensadores da Gestão, refere que “o propósito de um negócio, por outras palavras, não é dar lucro. É ter lucro para que as empresas possam fazer algo mais e consequentemente melhor. Esse 'algo' torna-se a verdadeira justificativa para o negócio”.

Um estudo de 2020 desenvolvido pela McKinsey, sobre Propósito (ver aqui), reflete que 82% dos colaboradores de empresas americanas inquiridos acredita na importância do propósito nas empresas, destacando que existe uma preocupação por se trabalhar em companhias que tenham um impacto claro, inequívoco e positivo no mundo.

Olhando para a perspetiva dos consumidores, um recente estudo de 2018, levado a cabo pelas empresas Cone / Porter Novelli (ver aqui), constata que quase oito em cada dez (79%) dos inquiridos são mais leais a marcas com um propósito declarado, face às marcas tradicionais. O mesmo estudo, ao examinar as expectativas e comportamentos dos consumidores em relação às empresas que lideram com propósito, identificou que as marcas orientadas para o propósito têm possibilidade de construir conexões emocionais mais fortes com os consumidores, que vão muito além de um relacionamento transacional.

Outro resultado interessante nesse estudo prende-se com o facto da grande maioria dos inquiridos referirem que as empresas devem ter um papel ativo na resposta a problemas complexos, nomeadamente proteção dos Diretos Humanos e no combate às alterações climáticas.

É assim percetível que, com os desafios atuais, a competitividade não se limita ao preço, nem à qualidade dos produtos e serviços prestados. A “licença para operar” pressupõe que as empresas, para além da responsabilidade para com os stakeholders, compreendam o dever de contribuir para a qualidade de vida, preservação do meio ambiente e desenvolvimento social.

Definirmos o propósito de uma empresa é um guia, um farol que ajuda a navegar em tempos incertos como o que vivemos. É tempo de fazermos de forma mais regular a pergunta: Porque existem as empresas?