A maioria dos homens poderá pensar que a grande vencedora da noite de Globos de Ouro foi Salma Hayek. Sim, é verdade que a atriz de origem mexicana trouxe duas séries de culto, daquelas que é impossível tirar os olhos (pisca o olho; apercebe-se que a senhora tem idade para ser sua mãe; fica envergonhado). Contudo, a série Succession, da HBO, arrecadou o prémio de melhor série dramática, pelo que pelo menos tem o direito a contestar a tal vitória do decote.

Não foi uma noite especialmente boa para a Netflix, o que prova que a plataforma mais popular foi no ano passado com o um all-you-can-eat chinês e japonês: muita variedade mas nada de verdadeiramente incrível. Eu comecei a ver Succession há pouco mais de uma semana, por isso estou claramente habilitado a dizer “gostava de Succession muito antes de ser cool”. Estou, neste momento, sensivelmente a meio da segunda temporada e não só a achar óptima como, naturalmente, já estou na fase do proselitismo, tentando convencer todos os amigos a ver, mesmo os que de forma pelintra me pedirão a palavra-passe da HBO para poder aceder ao meu desejo de conversão.

Succession gira em torno da família bilionária Roy, dona de um colossal império de entretenimento e notícias. É um reality show com óptimo guião da vida dos ultra-ricos-hiper-poderosos. O efeito que tem não é o de apologia à acumulação de riqueza, nem o de sátira fácil ou óbvia ao poder e ao capitalismo. É difícil gostar da família Roy: não é uma série com personagens amáveis, mas uma série com personagens menos ódiáveis. Succession é uma série das que a HBO gosta de fazer. Uma série da qual se diz “ca ganda série” passado poucos episódios. Não “vai crescendo”, já nos aparece madura.

Mas a faceta mais sedutora desta série de Jesse Armstrong é a forma como subtilmente satiriza, com distância e humor negro, o mundo sujo dos bilionários que gerem mega-conglomerados de comunicação, que têm nas mãos a capacidade nos influenciar, de nos instigar, de nos alienar. Como, sei lá, a Warner que é dona da HBO. Ricky Gervais foi assertivo quanto a esse paradoxo da produção cultural actual.

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Parece-me óbvio.