É a terceira vez que oiço esta frase singela e melancólica e que colide com tantas outras. À laia de exemplo aqui ficam alguns desabafos que já ouvi, frases com as quais muitos se identificam e outros nem por isso: “já não aguento isto”, “preciso de sair, falta-me o ar”, “se continuar fechado, vou perder a cabeça”, “sinto-me enlouquecer”.

Houve um momento em que pensei que a maioria das pessoas à minha volta estava chateada e sem norte, presas em casa, a ver notícias, a duvidar das notícias, a tentar perceber curvas de crescimento e sintomas que importa levar a sério e temendo pelo futuro.  Hoje, depois de termos desconfinado, concluo que, afinal, há muito boa gente que viveu bem a reclusão, que comeu melhor, que investiu em tempo de qualidade com os filhos, com os maridos, mulheres.

Existem sempre duas faces de uma moeda, já se sabe, e aqui não somos excepção, a pandemia não nos uniformizou, pôs em evidência diferenças e rupturas e a maneira como se vivenciam estes tempos não é transversal. O que é transversal chama-se medo e, diria, é natural.

Leio nas redes sociais que existem pessoas que optam por voltar ao confinamento, por razões de saúde, por serem de risco. Não estão confortáveis com o que vão sabendo sobre a evolução da pandemia, não sentem necessidade de sair para as ruas e correr o risco de ser contaminadas por um vírus que é invisível e não faz distinções.

Esta é, talvez, a primeira crise verdadeiramente mundial, atinge todos os continentes, géneros, etnias, religiões, culturas, faixas etárias. Não creio que tenhamos tido algo de semelhante no passado. Porque as guerras mundiais eram circunscritas a países, as pestes idem, a gripe espanhola, a malária e por aí fora. O coronavírus é a declaração fatal da nossa semelhança, do que significa ser humano sem fronteiras. Vivemos de forma distinta? Sim, e temos opiniões divergentes, concordamos que discordamos, vivemos melhor com isto e pior com aquilo, não somos iguais e o vírus está-se nas tintas. A desconfiança e o medo instalam-se e quem diz que tem saudades do confinamento talvez tenha saudades de uma sensação de segurança que, agora que retoma a vida, não sente. Mesmo que os dias de Verão estejam aí a prometer uma vida mais leve, este é o ano em que todos os dias pesam demasiado porque não sabemos, não temos como saber, se amanhã é igual ou pior.

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