Neste debate final Trump foi disciplinado, apareceu mais respeitoso no papel de candidato do que o que costuma ser como presidente. Voltou ao posicionamento que tinha usado há quatro anos: colocou-se como o “outsider” frente a um profissional da política e a tratar de o desgastar pelo que não fez no passado. A tática produz efeito: Biden tem 47 anos de vida política e foi vice-presidente (de Obama) durante oito anos, então por que é que não fez em todo esse tempo o que agora promete? Biden livrou-se do ataque com a resposta de que a maioria republicana no Congresso não deixou. É um facto. Mas este ataque de Trump causa mais efeito do que a arenga do candidato “corrupto e criminoso”.

Trump tentou abrir brechas no eleitorado mais próximo de Biden. Usou o tema racial e o da imigração, para tentar afastar de Biden algum do eleitorado negro e hispânico com postura moderada. Chegou a retomar a ferocidade do primeiro debate ao acusar Biden de em 1994 ter apoiado uma lei repressiva que atirou muitos jovens negros para a prisão. Biden soube explicar-se.

Biden, quase sempre com caneta na mão e a tomar notas, a mostrar-se focado, prudente, explorou bem a desastrosa gestão da pandemia por Donald Trump. Acusou-o de contínuas mensagens contraditórias e de indiferença perante tanto sofrimento. Biden foi eficaz a responsabilizar Trump por muitas das vidas perdidas: deixou evidenciada a incompetência de Trump que como político não quis ou não soube ouvir e respeitar o conhecimento científico. Trump confortou a base dele ao invocar a prioridade à recuperação da economia que salva as pessoas.

Biden também foi credível a defender o sistema de saúde para todos que é há muito pilar da política dos democratas.

O tema das alterações climáticas serviu para Trump puxar para ele o eleitorado das regiões petrolíferas, ao acusar o plano Biden de custos insuportáveis, designadamente em empregos perdidos. Biden agradou à base democrata e ecologista na firme promoção das energias limpas criadoras de milhões de postos de trabalho.

Nenhuma novidade sobre as convicções de cada um. Estão nos antípodas. No conjunto de tópicos sobre a decência, o respeito pelos outros e pela coesão no país, Biden confirmou que é o candidato confiável. É inquestionável que é ele quem tem atitude humanista, de respeito pela dignidade que deve corresponder à função presidencial e de busca de fiabilidade no tratamento das complexas relações internacionais.

Não parece que este debate possa ter alguma repercussão substancial no resultado final desta eleição em que já votaram 50 milhões de eleitores – número extraordinário, sem precedentes e que indicia mobilização do campo democrata.

Neste debate final entre Biden e Trump a vencedora é Kristen Welker, jornalista da NBC, correspondente na Casa Branca, tanto com Obama como com Trump.

Percebeu-se o esforço pelo namoro a eleitores dos estados que podem fazer a diferença (a Pensilvânia foi várias vezes referida ao longo do debate).

Este confronto direto final foi mais debate do que o esperado.  Muito do mérito é de Kristen Welker, jornalista da NBC, correspondente na Casa Branca, tanto com Obama como com Trump. Soube conter Trump sem que fosse preciso usar o recurso previsto ao fecho do microfone. A estratégia que usou de ter previamente escritas as perguntas âncora, embora pareça menos eficaz para a melhor comunicação, revelou-se certeira pelo resultado conseguido.

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