Abaixa a Vox, "não tem graça"
"A Espanha tem muito a comemorar e nada do que se arrepender. Num dia como hoje, há 529 anos, Colombo descobriu a América e começou a Hispanidade, a maior obra de geminação realizada por um povo na história universal", escreveu o partido espanhol Vox nas redes sociais, uma publicação acompanhada por uma imagem, um mapa, onde está assinalado a vermelho antigas possessões da coroa espanhola em todo o mundo, incluindo Portugal, toda a América Latina, grande parte da América do Norte e as costas africanas do Atlântico e Índico, incluindo o que é hoje Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique, entre outros países.
Também no topo da imagem pode ver-se uma bandeira com as armas portuguesas, ao lado do escudo real espanhol filipino, durante o período de 60 anos de anexação de Portugal por Espanha (1580-1640), em que as armas portuguesas faziam parte do brasão da coroa espanhola.
A imagem do partido populista e de extrema direita espanhol não acolheu aplausos deste lado da fronteira. A primeira reação foi de José Ribeiro e Castro, antigo líder do CDS e presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, que afirmou que a publicação "não tem graça".
“Não é a primeira vez que, infelizmente, esse partido espanhol decide fazer uma graça geográfica sobre a representação da Península Ibérica… Tem talento para manipulação de mapas e de apagar a existência autónoma de Portugal. É altura de dizer que não tem graça”, sustentou Ribeiro e Castro.
O presidente desta sociedade aludiu a uma outra publicação feita pelo Vox em janeiro de 2020, em que, recorrendo novamente ao Twitter, publicou uma ilustração com a expressão “Espanha existe” por cima de um mapa de toda a Península Ibérica.
As declarações, sustentou Ribeiro e Castro, não são “propriamente uma ameaça”, já que o Vox “não tem envergadura” ou “importância para isso, mas é uma ofensa gratuita que é feita” ao país.
“Consideramos que esse partido deve uma explicação e um pedido de desculpa a Portugal e aos portugueses pelo caráter gratuito da manipulação que foi feita com quebra do respeito da independência do nosso país”, completou, acrescentando que tem “todo o gosto” e dar lições de História ao Vox.
Quem também achou pouca graça à publicação foi o Chega, partido de proximidade ideológica com o Vox, partido com o qual assinou no último dia 24 de setembro a "Carta de Madrid", um compromisso que André Ventura descreveu como o início de uma união de forças internacional para uma “luta civilizacional”, contra os “regimes totalitários de inspiração comunista”, que também se propôs a ser um acordo de trabalho conjunto entre os dois partidos.
“Nós estamos em contacto com o Vox, pedimos esclarecimentos formais sobre isso, porque, independentemente dos factos históricos, pode melindrar as relações entre os países e entre os partidos. O que esperamos desta vez é obter um cabal esclarecimento do porquê, independentemente das razões históricas que estão por detrás disso”, salientou André Ventura.
Ventura falava nos Passos Perdidos, na Assembleia da República, depois de ter apresentado a sua recandidatura à liderança do partido, tendo apontado que, no que se refere à imagem partilhada pelo Vox, devem ser distinguidos os “factos” das “intenções”, adiantando que os “factos são evidentes”.
“Aquilo trata-se de mostrar um mapa que revela um período histórico durante o século XVII [Portugal foi anexado por Espanha entre 1580 e 1640], em que a dinastia filipina está também a dominar Portugal e, portanto, Portugal era, nessa altura, parte desse domínio espanhol”, salientou.
O líder do Chega afirmou assim que, tratando-se de um “facto histórico” — “em que efetivamente Portugal esteve mal, e infelizmente, debaixo do domínio espanhol” — a situação é diferente da que ocorreu há cerca um ano, quando o Vox também já tinha partilhado uma imagem onde uma parte de Portugal aparecia anexada por Espanha.
Na altura, André Ventura tinha exigido um pedido de desculpas ao partido nacionalista espanhol — que nunca recebeu — recordando agora que, depois de o Vox ter sido questionado sobre o tema quando esteve em Portugal, deixou claro que “era um assunto encerrado” e que “nem sequer se tinham na altura apercebido da dimensão disso”.
Salientando que, atualmente, a situação é diferente, “porque há uma relação institucional” entre os dois partidos – o líder do Chega esteve este fim de semana em Madrid, onde discursou num evento do Vox -, André Ventura afirmou que, neste caso, “não há nenhuma questão de anexação nem nenhuma questão de subtração do território”, contrariamente ao que aconteceu há um ano.
“Trata-se de um período histórico detalhado, mas que podia ter sido evitado, devia ter sido evitado, nomeadamente porque é sabido historicamente que há uma sensibilidade muito forte entre Portugal e Espanha” sobre este assunto, indicou.
Nesse sentido, o presidente do Chega afirmou que está a tentar “saber o que se passou e como é que se passou e, percebidas essas intenções”, exigirá “naturalmente que seja retirada essa imagem da circulação e que o Vox não volte a apadrinhar situações destas, independentemente da sua natureza histórica”.
“Vamos exigir esclarecimentos [e] voltaremos a exigir, se necessário, um pedido de desculpas porque para nós o território é sagrado e a Nação portuguesa é sagrada”, indicou.
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