Santa Casa. Uma exoneração rude, sobranceira e caluniosa?
O que aconteceu?
Na segunda-feira o Governo decidiu exonerar toda a mesa da Santa Casa, liderada por Ana Jorge, isto após o Ministério da Segurança Social ter pedido um plano de reestruturação urgente à instituição numa altura em que enfrenta crise financeira.
“Infelizmente, esta decisão tornou-se inevitável por a Mesa, agora cessante, se ter revelado incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição, o que poderá a curto prazo comprometer a fundamental tarefa de ação social que lhe compete”, justificou o executivo. Segundo o Governo, “a preocupação com o rumo da SCML e a incapacidade da Mesa de tomar ações decisivas para o inverter têm vindo a ser públicas”.
E qual foi a reação de Ana Jorge?
Já esta terça-feira, a provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, enviou um email aos funcionários sobre o que aconteceu nas últimas horas e diz que se sente "desiludida".
"Recebi - confesso que com surpresa - a minha exoneração do cargo de Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, função que assumi há menos de um ano", diz Ana Jorge em comunicado divulgado internamente a que o SAPO24 teve acesso.
"Antes de mais, foi uma honra, claro, servir esta casa. Mas foram 11 meses muito duros, em que, claramente, avançámos rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores e mais importante, no compromisso social que assumimos com milhares de pessoas", pode ler-se.
Segundo Ana Jorge, é "pelo tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo e pelo plano de reestruturação sólido que desenhámos e que queríamos implementar" que não se sente "tão triste".
"Porém, o comunicado emitido pelo Ministério do Trabalho é, pela forma rude, sobranceira e caluniosa com que justifica a minha exoneração, motivo para me sentir desiludida", frisa. "Sempre achei e hoje mais do que nunca, que em política, tal como na vida, não vale tudo".
Montenegro já falou sobre o assunto?
Sim. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, alertou hoje para “a situação dificílima” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e rejeitou qualquer saneamento político no que respeita à exoneração da provedora Ana Jorge.
“Eu creio que é preciso dar ao país sinais de normalidade no funcionamento da nossa democracia. Não há saneamento político nenhum”, afirmou o chefe do Governo.
E a resposta da Oposição?
O PS defendeu que a exoneração da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, tem como único objetivo colocar no cargo "pessoas mais politicamente alinhadas e domesticáveis" pelo Governo do PSD.
“O Governo está a criar um conjunto de casos que tem como único fundamento substituir pessoas que sejam mais politicamente alinhadas, mais domesticáveis pelo Governo PSD”, sustentou o vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS Tiago Barbosa Ribeiro numa declaração aos jornalistas na sede dos socialistas no Porto.
Para o deputado socialista, é "isso que está em causa nestas e noutras atitudes, como foi o caso da direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Segundo Tiago Barbosa Ribeiro, o Governo de Luís Montenegro tem, desde que tomou posse, “encontrado subitamente problemas que não eram identificados” num conjunto de dirigentes que são “inquestionavelmente bons dirigentes e bons gestores públicos”.