Chicas Poderosas nasceu em 2013 de um programa de bolsas da jornalista Mariana Santos no ICFJ (Internacional Center for Journalists), em Washington, Estados Unidos. Três anos depois, cerca de 2500 pessoas já participaram nos cursos em mais de dez países, incluindo a Colômbia, afirmou a ‘designer’ de conteúdos e jornalista à Lusa.
A escolha da América Latina baseou-se na desigualdade de género que existe na região em relação ao acesso a cargos de liderança. "Algumas mulheres vivem com o chip do 'eu não posso', mas com Chicas [Poderosas] vêem-se numa rede de apoio de mulheres e podem confiar umas nas outras", afirmou Mariana Santos, atualmente directora de Interação e Animação na Fusion, uma “joint venture” entre Disney/ABC e Univisión, nos Estados Unidos.
O objetivo é que, capacitadas, mais mulheres possam ocupar cargos de destaque nos meios de comunicação em que trabalham, além de contribuir com investigações e projetos de jornalismo de dados, por exemplo.
As oficinas de Chicas Poderosas são realizadas durante três ou quatro dias, normalmente de forma gratuita, com aulas que incluem temas como comunicação, inovação, tecnologia e metadados, dependendo do público-alvo.
O projeto já capacitou 2500 pessoas, a maioria mulheres, em áreas urbanas e rurais de México, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Costa Rica, Nicarágua, Peru, Chile, Argentina, Brasil e Uruguai. Os cursos são voltados, segundo a criadora, para "mulheres e homens, mas principalmente mulheres, que queiram trabalhar com inovação e tecnologia e seguir adiante com projetos próprios".
O projeto em Portugal está a ser planeado por uma equipa multidisciplinar que inclui uma jornalista e um programador, e está previsto para outubro, na região da grande Lisboa, afirmou Mariana Santos.
"Queremos que este seja um evento de apresentação oficial do projeto a nível ibérico e europeu. A ideia é que o Chicas Poderosas possa, através da energia latino-americana que lhe serviu de base, ser catalisador de inspiração e de progressão a projetos jornalísticos europeus à escala global", afirmou à Lusa.
A chegada do projeto a Portugal integra a estratégia de crescimento de Chicas Poderosas nos próximos anos e "é essencial para dar a conhecer e partilhar melhores maneiras de investigar e contar histórias", disse Mariana Barbosa.
Em 2015, Chicas Poderosas ganhou um novo fôlego: através de uma parceria com a Universidade de Stanford, Mariana Santos levou jornalistas, programadoras e formadoras a um curso de quatro dias nos Estados Unidos, apresentando o que havia de recente na área, para as preparar como embaixadoras do projeto para criarem oficinas e eventos nos seus países, para que o projeto continue de forma independente.
Na Colômbia foi assim
Chicas Poderosas chegou à Colômbia em 2013 e, desde então, foram realizadas no país três cursos sobre tecnologia e competências digitais, incluindo uma para mulheres e jovens deslocados. "Foi super emocionante ver como poderíamos replicar [o projecto] aqui", afirmou uma das embaixadoras de Chicas Poderosas na Colômbia, a jornalista Lia Valero. A Colômbia foi o terceiro país a receber um evento do programa, após Chile e Costa Rica.
O primeiro evento em Bogotá foi realizado em setembro de 2013, para mais de 300 pessoas, em parceria com o Ministério de Tecnologias da Informação e da Comunicação, as universidades Javeriana e Santo Tomás e o jornal El Tiempo. Em três dias de curso, houve conferências e grupos de trabalho sobre narrativas digitais, com mentores colombianos e internacionais.
Os cursos seguintes foram feitos em locais distantes de Bogotá, a capital do país. Entre 26 e 28 de maio, nove integrantes do projeto na Colômbia viajaram para a cidade de Quibdó, no Departamento do Chocó (noroeste do país, com costa no oceano Pacífico), para trabalhar num curso para mulheres e jovens deslocados do seu território.
Com o tema “El Pacífico Cuenta” (O Pacífico Conta, em tradução livre), o evento contou com conferências e cursos práticos sobre tratamento de imagem, som e texto como formas de exploração narrativa, incluindo temas escolhidos pelos jovens, como deslocamento territorial, género, conflito armado e ambiente, de acordo com a Chicas Poderosas.
"A partir do ano passado, a proposta foi a de que as réplicas do projecto fossem mais espontâneas. E Chicas Poderosas cresceu, e ganhou uma presença mais forte também em países como México e Argentina", afirmou Lia Valero.
Outro evento do projetco na Colômbia, em parceria com a Fundación Gabriel García Márquez para el Nuevo Periodismo Iberoamericano, reuniu por cinco dias, também em maio, 14 mulheres jornalistas no Departamento da Guajira (norte da Colômbia) incluindo cinco comunicadoras do povo indígena wayuu. O tema do curso foram as novas formas de narrar a escassez, considerando a falta de água e alimentos.
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