Ser fã de um clube, seja de futebol, basquetebol ou qualquer outro desporto, vai para além de ir religiosamente ver a sua equipa a jogar. É também uma questão de segui-la fora de campo, apoiá-la sempre que possível e representá-la onde for preciso.

É para os apoiantes com esta mentalidade que a BBox Sports surgiu, afirmando-se esta startup como a primeira em Portugal a trazer o conceito de “caixa surpresa” — uma caixa com produtos específicos, escolhidos sem o conhecimento do seu comprador — para o desporto.

Direcionada para os amantes das práticas desportivas, a BBox tem como principal oferta uma caixa com itens oficiais de uma determinada equipa. Apesar de planear vir a trabalhar com desportos como basquetebol e MotoGP, atualmente a empresa centra-se somente no desporto-rei, o futebol, e, para já, trabalha apenas com o Benfica.

Cada caixa da BBox traz entre quatro a seis produtos, podendo estes ser acessórios, porta-chaves, canetas, notebooks, assim como peças de vestuário como hoodies, gorros, cachecóis e t-shirts. Os produtos, explica Dulce Guarda, uma das co-fundadoras da startup, são simultaneamente oficiais, porque “são previamente aprovados pelos clubes”, e exclusivos, já que “o fã apenas os consegue adquirir comprando a BBox”, e as caixas são renovadas a cada três meses.

Às caixas junta-se outro produto que a BBox desenvolveu, os LADs, que, segundo Dulce Guarda, são “réplicas miniatura dos equipamentos de futebol” envergados pelo jogador de um clube de futebol que trabalhe com a empresa. E para além dos produtos oficiais e dos LADs, alguns dos compradores de uma BBox habilitam-se a receber algo mais, já que 15% das caixas trazem experiências exclusivas. Estas, enumera a empresária, podem ser “visitas ao estádio, ao museu, ou até assistir a um jogo num camarote VIP."

Há duas formas de adquirir as caixas da BBox Sports, ora comprando-as avulso, ora assinando uma subscrição anual, recebendo uma caixa nova de três em três meses. Nesta segunda modalidade, informa Dulce Guarda, há a oferta de um LAD e da camisola oficial de época do clube em questão. Já os LADs, explica a empresária, podem ser adquiridos “diretamente nas lojas oficiais do clube, no website da BBox Sports e em breve noutras cadeias de retalho", deixando, porém, a nota de que há certos exemplares que apenas estão disponíveis nas próprias caixas BBox.

Já uma das virtudes das caixas surpresa da BBox, considera Dulce, está no seu valor. Sendo cada caixa vendida a 54,90 euros, a co-fundadora defende que o “modelo de caixa mistério” vem do conceito "value for money" (“custo-benefício”) e que, com a BBox, o consumidor “consegue adquirir produtos oficiais do clube, mas a metade do preço”. “Nós temos sempre um cartão explicativo dentro das caixas, onde mostramos o valor separado de cada um dos produtos, de quanto é que o fã iria gastar se comprasse esses produtos em separado e quanto é que, na realidade, está a pagar por eles", completa a responsável.

No cerne daquilo que a BBox faz está o conceito de “fan engagement”, que consiste na criação de uma relação contínua entre fã e clube que extravasa o desporto em si. No entender de Dulce Guarda, é uma forma dos fãs se sentirem “parte da família durante o ano inteiro”.

No entanto, fomentar estas relações nem sempre é fácil pois esse não é o objetivo principal dos clubes, mais focados nos atletas e na bilhética do que em “criar produtos novos” ou “pensar todos os dias como é que se vai fazer engagement com os fãs”, considera a empresária. Por isso é que, diz, as instituições desportivas se têm mostrado interessadas na BBox Sports, pois nela veem “uma alternativa para poderem criar esta ligação com os fãs durante todo o ano, sem ter de despender grandes esforços por parte das suas equipas internas”.

Esse tipo de relação, por exemplo, pode ser alimentado pela criação de produtos de uma vertente lifestyle. “Temos vários clubes que até já fizeram parcerias com marcas de roupa, para criarem produtos para o fã poder utilizar no dia-a-dia”, não tendo estes “letras garrafais ou logos enormes, que não permitam usar as roupas na rua ou no local de trabalho”.

BBox Dulce Guarda

Passear no estádio ou tirar uma fotografia ao lado do Luisão: as possibilidades da realidade aumentada

Os produtos oficiais e os LADs são um dos pilares da oferta da BBox Sports, mas a startup não se fica apenas pela oferta de bens físicos, tendo também apostado numa componente digital. Esta manifesta-se, conta Dulce, através de experiências de realidade aumentada que se podem ativar na aplicação para telemóvel BBox Sports AR.

Com um scan a um código presente na caixa, o consumidor pode, por exemplo, “fazer uma visita de 360º ao estádio”, conta Dulce. Mas não é apenas a caixa que oferece experiências. Usando a aplicação num dos LADs, o utilizador não só obtém “dados estatísticos sobre esse jogador quando esteve no clube em questão” — estes passam por “jogos, golos, taças ou campeonatos ganhos, fotografias, vídeos, citações, data de aniversário, signo” — como também pode tirar uma fotografia com o atleta.

Fazendo “scan da superfície onde se encontra”, o fã pode ter ”o jogador no seu ecrã de telemóvel e posicionar ao lado para tirar uma fotografia com ele”, explica a empresária, indicando que, por exemplo, houve muitos utilizadores a partilhar fotografias do antigo defesa central e capitão do Benfica, Luisão, junto da árvore de Natal, com os presentes.

Estas experiências, adianta a responsável, não são estáticas, mudando com cada caixa que vai sendo lançada. “A cada caixa nova, a cada LAD novo, a experiência aumenta e evolui”, diz Dulce Guarda. A título de exemplo, a empresária conta que na caixa lançada em agosto de 2019, os utilizadores podiam explorar os recantos do Estádio da Luz num dia ensolarado, mas na segunda caixa, lançada em dezembro, a experiência foi alterada para refletir a época natalícia. “Quando o fã fazia o scan e entrava no estádio, estava a nevar, ouvia-se o Pai Natal e o som dos sinos das renas”, refere.

No entanto, a app também vai possibilitar aos fãs influenciar que tipo de produtos podem surgir em futuras caixas. Dulce Guarda explica que a aplicação “vai ter vários produtos em exposição numa galeria onde uma pessoa, quase em jeito de Tinder para desporto, pode fazer swipe para a esquerda ou direita, dando-lhe a possibilidade de escolher os produtos que mais gosta”

Recolhendo estes dados, ao fim de três meses a BBox Sports vai ter em conta, por exemplo, se as pessoas gostam mais de t-shirts escuras ou claras, sweatshirts com ou sem capuz, ou cachecóis mais lisos ou com muitos símbolos do clube. “Isso vai permitir-nos oferecer ao fã produtos de acordo com os seus gostos”, justifica Dulce Guarda.

A junção de produtos colecionáveis e da componente digital associada que faz com que a BBox se paute por uma “grande diferenciação” no mercado, adianta Dulce Guarda. A confluência entre o físico e o digital, aliás, atrai vários tipos de fãs, defende. “Temos dos mais velhos aos mais novos e brincamos muito com isso, por exemplo, com os produtos colecionáveis. Os LADs apelam muito ao lado de pessoas mais velhas que gostam de colecionar, mas depois há a parte da geração mais nova que gosta de interagir através de realidade aumentada”, completa.

A adoção de uma componente digital permite à BBox ainda diversificar o seu modelo de negócio, já que pode implementar o B2B (“Business to Business”) com os clubes. “Todo o acesso à análise de dados dos fãs que nós conseguimos recolher, mesmo através da criação de produtos, é sempre um revenue-share que fazemos com o clube”, explica Dulce. A outra parte do modelo é a venda ao cliente.

BBox

Trabalhando com o Benfica, com os olhos postos lá fora

Nascida no verão de 2018, a BBox Sports começou por entrar num programa de aceleração em Amesterdão, estando neste momento sediada nos Países Baixos. O intuito de trabalhar nesta área partiu da relação que os fundadores da BBox Sports têm com o desporto, em especial o CEO, Ivan da Silva Braz, que jogou futebol semi-profissional durante vários anos.

“Era uma área onde tínhamos muitos contactos e onde começámos a perceber que era uma área onde podíamos fazer mais pela relação que os fãs têm com o futebol”, sublinha a empresária.

Contactos feitos, o primeiro clube a acolher a BBox “de braços abertos” foi o Benfica, com Dulce Guarda considerar que a parceria se deu porque “é um clube que a nível mundial tem uma marca muito forte” e que é “seguido por muitos outros no mundo”, razões para ser “um ótimo case-study para começar”.

Mas apesar da boa experiência com o Benfica, a empresária diz que a BBox Sports não se vai ficar por aqui. “Neste momento estamos a trabalhar para abrir com novos clubes, nomeadamente a nível nacional, mas também vamos integrar clubes do mercado brasileiro e do Reino Unido”, indica Dulce Guarda, prometendo que a nova oferta estará disponível até ao final de 2020.

Para já, os primeiros tempos da BBox têm sido positivos, com Dulce Guarda a falar de “uma grande adesão” do “mercado português”, principalmente “pelo lado das mulheres”. “66% das nossas vendas têm sido mulheres a comprar para oferecer a homens: filhos, maridos, namorados e amigos”, indica a empresária, oferecendo como explicações para o sucesso o facto deste ser “um produto muito fácil de comprar” e de que o consumidor português “está muito aberto a este tipo de experiências de caixas”.

Como consequência, há cada vez mais pessoas a pedir caixas com produtos de mais clubes, adianta Dulce Guarda, servindo para esses pedidos uma área do site da BBox onde os clientes podem fazer pedidos. “Nós recebemos automaticamente essa informação e é uma mais-valia, para quando chegamos a um clube, dizermos que existem ‘x’ fãs a querem uma caixa com produtos oficiais deles", conta a empresária. Por isso mesmo, os próximos planos são “chegar a mais clubes a nível mundial”, adianta Dulce Guarda, e, a partir daí, “começar a entrar também noutros desportos”.