Não será certamente uma questão transversal a todos os negócios, mas é comum ter de planear antecipadamente o trabalho a ser feito nos dias em que vamos estar fora. Especialmente durante o período das férias de verão. Ainda que seja uma época teoricamente mais calma, há projetos para avançar, reuniões para organizar e distribuir trabalho, pessoas a quem responder porque sabem que vamos estar "fora de serviço".
Mas a verdade é que, às vezes, é um período tão intenso que ficamos com a sensação de que precisamos de umas férias só para o período de pré-férias. O que nos remete para a questão: porque é que isto acontece? É uma realidade comum e generalizada ou tem as suas especificidades? Foi o que um artigo recente da The Atlantic procurou saber junto de vários académicos ligados ao setor social e empresarial.
Uma das conclusões a que se chega é a de que é um fenómeno que afeta mais os trabalhos de escritório do que outras áreas. Há locais onde trabalhar mais intensamente antes de umas férias pouco faria para aumentar a produtividade, mas quando se trabalha numa área em que é possível adiantar serviço para compensar a ausência a tendência é para que isso aconteça. E existem algumas razões que o explicam:
- A distribuição ou delegação de trabalho nas empresas. Como muitas vezes é uma pessoa ou chefia a assumir determinada função, além de fazerem o seu trabalho normal, as pessoas podem ficar atoladas por ter de explicar aos outros como proceder quando estiverem fora;
- "Deadline rush". É a ideia de que consigamos fazer muitas tarefas pouco antes do prazo de entrega. Só que ao estabelecermos uma data limite num estilo "acabo antes das férias" podemos estar a criar uma situação de stress e de acumulação de trabalho;
- Não querer deixar trabalho por fazer. O sentimento de "dever cumprido" é muitas vezes determinante para que consigamos aproveitar o período de descanso. E isto acontece não só por uma questão de política cultural de uma empresa ou país, é também psicológico. Deixar trabalho por fazer pode causar desconforto emocional porque não existiu um momento "de finalidade". Sem ter feito por isso, o trabalhador sente que não "merece" as férias.
Uma questão cultural
Depois há toda uma questão que tem a ver com o mindset e cultura. Sendo o artigo de uma publicação norte-americana, o foco está naturalmente ligado à realidade dos Estados Unidos. Uma professora da prestigiada INSEAD, uma famosa escola francesa de gestão, explica que a principal diferença entre a Europa e os EUA prende-se com o facto de as empresas e negócios por terras do Tio Sam olharem para o período de lazer com desconfiança — há o sentimento de culpa por ir de férias, pelo que se trabalha a dobrar para compensar.
- Segundo a docente, este comportamento não é habitual na maioria dos países europeus, especialmente se estivermos a falar das férias de verão. É comummente aceite que durante este período há serviços limitados, que as coisas demoram um pouco mais a serem feitas e que as pessoas precisam de ir de férias para recarregar baterias.
- "Claro que há a sensação de que há algumas coisas que quero acabar e até pode haver alguma urgência de última hora, mas não é nem de perto como o que acontece nos EUA", justificou.
O que pode ser feito para facilitar este período? Um dos académicos sugere que seja feita uma adaptação do modelo tradicional de trabalho e dá o exemplo de que podem ser criados documentos internos ao estilo Wiki, para que seja fácil delegar tarefas nestas alturas.
- Outra das sugestões passa por as empresas reduzirem a carga de trabalho dos trabalhadores nos dias antes das férias ou pelo menos atribuir-lhes tarefas de curto prazo que possam ser concluídas antes de largarem funções.
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