“Já há algum tempo que ando atrás desta ideia de trazer mais algum contexto para as atuações. Para que o DJ Set não fosse apenas um momento que se vive naquelas duas horas, e na manhã seguinte já ninguém se lembra de nada”.
Branko desenvolveu um espetáculo, "um formato novo", que pretende apelar a todos os sentidos de quem está sentado numa sala. “Quase como ir ao cinema”, diz.
Quando a música de dança perde o espaço para ser dançada, a palavra-chave é adaptar. A necessidade aguça o engenho, sempre se disse.
"Tentei ao máximo adaptar o contexto e a informação", conta, e daí surgiu um novo espetáculo visual. Foi ao arquivo, filmou coisas novas e traz agora os músicos em vídeo.
Foi assim no Tivoli — previsto para abril, adiado para julho — e repete-se esta sexta-feira no Campo Pequeno, agora integrado no conjunto de concertos “2020 Cultura Para Todos — Santa Casa Portugal Ao Vivo”.
“Talvez não haja a liberdade de dançar ou de ir ao bar beber uma cerveja, mas sai-se com uma noção mais ampla de vários universos musicais e de artistas novos”, explica.
Parar ajudou. "A paragem permitiu interpretar e trabalhar um desafio. Uma agenda de espetáculos e uma tour não te permite parar para configurar uma ideia do zero. Tirando o primeiro álbum, um dos problemas dos artistas é nunca mais conseguirem desenvolver uma ideia do zero até cem por cento sem influência da própria indústria".
Internet, um club sem porteiro
Diretos, redes sociais, plataformas. Instagram, Switch, ou outros que se juntaram ao nosso vocabulário nos últimos meses. A pandemia trouxe uma nova forma de difusão e consumo de música “ao vivo”. Branko fê-lo, outros fizeram-no. A adaptação passa também por versões diferentes daquilo que é dar um concerto.
"Isto veio os acelerar os eventos digitais e a forma como as pessoas se relacionam com a música através da Internet. Sinto que nesse campo nunca mais vamos voltar a estar como em 2019; dificilmente vamos ter festivais, ou outro tipo de eventos, que não estejam a acontecer simultaneamente nos dois planos, no virtual e no plano físico".
Por cá, os primeiros passos foram dados no Instagram. “E foi muito difícil arrancar as pessoas para formatos um pouco mais desafiantes. Fizemos, no YouTube, a Enchufada na Zona On Air e senti que as pessoas não se relacionaram da mesma forma como no início dos concertos pelo Instagram. Sinto que a certa altura as pessoas começaram a associar estar a assistir a um direto a uma coisa negativa, a uma realidade de um período de confinamento".
Essa perceção levou-o a pensar mais longe. Literalmente. Depois da sua sala transformada em cabine de DJ, outras paisagens seguiram-se. De norte a sul do país. Junto a uma cascata ou num balão de ar quente, serviu durante este verão um "shot" de música e paisagem diretamente de cenários com características muito diferentes dos clubes por onde costuma atuar. Do seu desconfinamento (ou férias) trouxe um conjunto de pequenos sets e um inédito, na Serra da Estrela, ao qual se juntaram Rita Vian e Pedro Mafama.
O diálogo é outro, e diferente de uma pista de dança, mas o feedback foi positivo. "Da mesma maneira que meto o "MPTS" no Super Bock Super Rock e sinto as pessoas a reagir ao tema, quando acabo um pequeno direto de 15 minutos do Teleférico da Serra da Estrela recebo 10 mensagens a perguntar qual era a segunda música que toquei", saúda.
Mais, a pandemia veio retirar alguns dos atores da trama que é o mercado musical, como "promotores e grandes empresas de management". "Passou a ser ainda mais democrático no lado virtual”, diz Branko.
“Se existem fronteiras, rapidamente podem ser mandadas abaixo. Canais como o Colours, que colocam em destaque uma diversidade musical diferente daquilo que seria o standard, ganharam outro destaque. Muito mais música pode ter chegado às pessoas desta forma e que não chegaria de outra. Há mais procura de contexto. De alguma forma este período acabou por ajudar ao autoconhecimento, das raízes e ideias. A abertura para conhecer música, seja ela tradicional portuguesa, seja tradicional espanhola, é muito maior agora neste universo independente e mais alternativo".
Dancemos a isso.
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