Com encenação de Maria do Céu Guerra - que tem apenas uma pequena participação, no encontro de Tchekhov com os presos -, a peça dá, segundo a encenadora, “uma dimensão dos pecados mortais das nossas sociedades: mentira, intriga, corrupção, crueldade”.
“Outro Tchekhov” é o subtítulo da encenação a estrear pela companhia, que se baseou e inspirou noutras obras do dramaturgo russo como “A gaivota”, “Ivanov”, “Pedido de casamento”, e nos contos “A dama do cãozinho” e “A panhonha”, entre outras.
“À volta o mar, no meio o inferno” centra-se na viagem que Tchekhov fez a Sacalina e que inspirou o então médico de 30 anos a escrever uma história de viagem comovente, que mais tarde seria recordada num 'best-seller' do japonês Haruki Murakami (“1Q84”).
Autor com sucesso, e com tuberculose, Tchekhov (1860-1904) viajou até àquela ilha na costa da Sibéria e do Japão para, como na altura escreveu a amigos, estudar as condições de vida, “e assim pagar a sua dívida à Medicina”.
Na altura, Tchekhov levou mais de dois meses para atravessar a Sibéria antes de chegar ao Pacífico Norte e à ilha vizinha do Japão, há muito proibida a estrangeiros.
Sem documentos oficiais, ordem de missão ou carta de recomendação, Tchekhov quis, contudo, estudar a ilha que servia como local de deportação.
Na obra original, Tchekhov faz uma descrição cronológica das particularidades de cada um dos povoados e de cada uma das prisões que visitou, na colónia penal de trabalhos forçados, além de analisar aspetos particulares da vida nessa colónia.
Com interpretação de David Medeiros, Kateryna Petreanu, Paulo Lima, Carolina Medeiros, Ruben Garcia, Rita Soares, João Maria Pinto, Adérito Lopes, Sérgio Morais, Samuel Moura, Sónia Barradas, Cláudio Castro, Patrícia Frazão e Miguel Migueis, “À volta o mar, no meio o inferno” vai estar em cena de quarta-feira a sábado, às 19:00, e, aos domingos, às 17:00, no Cinearte, em Lisboa.
O texto e conceção do espetáculo são de Maria do Céu Guerra, a música e direção musical, de António Vitorino d'Almeida e, o guarda-roupa, de Maria do Céu Guerra e Sérgio Moras.
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