Esta série televisiva, assinada por Carlos Vaz Marques e Graça Castanheira, é composta por 11 episódios documentais sobre outros tantos escritores de língua portuguesa distinguidos com o Prémio José Saramago, e quatro desses retratos são exibidos hoje, em antestreia, na sessão especial do último dia da competição do festival IndieLisboa.
Na sessão em antestreia, no Cinema Ideal, será possível conhecer, em documentários de meia hora, os escritores portugueses Paulo José Miranda e João Tordo, a brasileira Adriana Lisboa e o angolano Ondjaki.
"Herdeiros de Saramago" tinha estreia marcada na RTP para junho, mas acabou por ser adiada para novembro, pensada agora para coincidir com o aniversário de nascimento de José Saramago.
Em janeiro deste ano, ainda com a série em fase de rodagem, o jornalista Carlos Vaz Marques contava à agência Lusa que a série pretende mostrar facetas dos autores premiados que serão "uma revelação mesmo para quem lê há muito os livros que escrevem".
Paulo José Miranda, o primeiro a ser distinguido com aquele prémio literário, em 1999, com "Natureza morta", recordou no documentário que na adolescência escreveu letras para uma banda punk e que gastou o prémio monetário numa câmara de filmar para a namorada da altura, cineasta.
No filme, o escritor recorda ainda o tempo em que viveu na Turquia e no Brasil, como essas vivências se refletiram no que escreveu, e explica a presença do álcool e do chá nas rotinas de escrita.
O episódio dedicado a Ondjaki foi rodado em Luanda, cenário, personagem e fonte de histórias que fazem parte do universo ficcional do escritor, nomeadamente nos livros "Avó dezanove e o segredo do soviético" e "Os transparentes", que lhe valeu o Prémio José Saramago em 2013.
Ondjaki revisita memórias de infância, com uma visita a escola onde estudou, com um almoço com antigos colegas, e num jogo verbal de 'estiga' com três crianças.
Adriana Lisboa, Prémio José Saramago em 2003 com "Sinfonia em Branco", passeia pelo Rio de Janeiro, ao encontro de locais essenciais no processo criativo, como a biblioteca nacional, onde habitam livros que, para ela, são "seres vivos".
A autora aprofunda ainda a ligação entre a escrita e a música - canta e toca flauta transversal -, que lhe permitem oferecer ao leitor um certo "timbre de escrita".
João Tordo percorre locais da infância em Lisboa, como a casa onde viveu, no mesmo prédio de Alexandre O'Neill e Ary dos Santos, e relembra o bloqueio literário que teve de ultrapassar depois de ter recebido o Prémio José Saramago, em 2009 com o romance "Três Vidas".
Segundo Carlos Vaz Marques, "um aspeto essencial desde o primeiro momento" foi "o cuidado e o apuro formal" que se pretendeu dar à série, enformando um registo mais de cinema do que de televisão.
“A ideia é fazermos deste conjunto de documentários uma série de filmes que se aproximem da linguagem cinematográfica. Sabemos que estamos a trabalhar para televisão, mas não queremos que estes filmes se esgotem no imediatismo de uma linguagem televisiva às três pancadas”, contou.
Recuando ao início, Carlos Vaz Marques conta que a ideia para a série nasceu da constatação de que, em Portugal, faltam registos documentais cuidados, cinematográficos, daquilo que são os tempos atuais.
Na opinião do autor, faltam, por exemplo, documentários sobre os artistas portugueses enquanto se encontram no auge do seu processo criativo, e, consequentemente, faltarão bons documentos visuais no futuro.
“A escassez de imagens dos nossos arquivos audiovisuais que documentem a vida e o pensamento de grandes nomes da cultura portuguesa é confrangedora”, notou, afirmando ter sido esse o motivo que o lançou neste projeto, para o qual pesou o facto de ser jornalista e de estar há muito ligado ao mundo dos livros, tornando-se-lhe evidente a falta de documentos audiovisuais no âmbito literário.
O gancho para colmatar essa falha foi o Prémio José Saramago, criado pela Fundação Círculo de Leitores e atribuído um ano depois de José Saramago ter ganho o Prémio Nobel da Literatura.
"Herdeiros de Saramago" conta ainda com retratos de José Luís Peixoto (2001), Gonçalo M. Tavares (2005), Valter Hugo Mãe (2007), Andréa del Fuego (2011), Bruno Vieira Amaral (2015), Julián Fuks (2017) e Afonso Reis Cabral (2019).
A sessão de hoje no Cinema Ideal conta com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca.
O festival IndieLisboa começou no passado dia 25 de agosto, com mais de duas centenas de filmes na programação, e termina hoje.
A 17.ª edição deveria ter ocorrido entre abril e maio, mas a pandemia do novo coronavírus obrigou a uma alteração de planos, com a direção a decidir remarcá-la para o final de agosto, mantendo a seleção que já estava traçada há vários meses.
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