A mostra de arte contemporânea é uma iniciativa de intercâmbio cultural entre Portugal e a República Checa que pretende promover as relações históricas e culturais, tendo por mote a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, e a Revolução de Veludo, a 17 de Novembro de 1989.
Contactada pela agência Lusa, a Galeria Municipal da Cidade de Praga, onde a exposição irá estar patente este ano, indicou que, em 2020, será apresentada em Portugal, no Museu Nacional de Arte Contemporânea-Museu do Chiado, com inauguração agendada para o 25 de Abril.
Sandra Baborovska e Adelaide Ginga são as curadoras das exposições realizadas em parceria no quadro de um projeto que assenta numa exposição coletiva de arte contemporânea, fazendo uma analogia comparativa entre a arte portuguesa e a arte checoslovaca produzida no período entre 1968 e 1989.
“Devido ao seu caráter pacífico, ambas as revoluções ficaram associadas a símbolos e designações não bélicas, que inspiraram e deram título a este projeto”, explicam as curadoras num texto sobre a mostra.
Na exposição “Cravos e Veludo”, as curadoras destacam “paralelos surpreendentes, até então quase desconhecidos, entre estes dois países situados geograficamente em extremos opostos da Europa”.
Serão apresentados trabalhos de artistas da antiga Checoslováquia nas suas diversas respostas ao regime totalitário, nomeadamente Adriena Simotová, Eva Kmentová, Jirí Kovanda, Petr Stembera, Jan Mlcoch, Milão Knízák, Jirí Kolár, Václav Havel, Júlio Koller, Lubomír Durcek, entre outros, em diálogo com os contemporâneos portugueses à época, como Helena Almeida, Lourdes Castro, Ana Vieira, Ana Hatherly, Fernando Calhau, Alberto Carneiro, Manuel Alves, Silvestre Pestana, entre outros.
“Neste diálogo, em que se propõe uma reflexão sobre a expressão artística e os processos de criação desenvolvidos durante um período de censura e ausência de liberdade, é possível verificar que apesar da distância e do desconhecimento da cena artística entre os dois países, existem inúmeras afinidades artísticas, a nível temático, formal, estético ou conceptual”, sustentam as curadoras num texto sobre a exposição.
A exposição será apresentada em diversos suportes, desde a pintura, desenho, escultura, fotografia, instalação, vídeo e performance, e contemplará também uma jovem geração de artistas pós-revolução que reflete sobre este passado recente, como Zbynek Baladrán e Ana de Almeida.
O projeto inclui a publicação de um catálogo trilingue – em checo, português e inglês – com cerca de 200 páginas, reunindo imagens e textos científicos das curadoras, e do historiador checo Pavel Szobi, que tem estudado as relações político-económicas entre a Checoslováquia e Portugal durante as décadas de 1970 e 1980.
A delimitação cronológica definida para o projeto dedicado à Arte e Revolução em Portugal e na Checoslováquia assenta em três datas estruturantes: 1968, 1974, 1989.
O ponto de partida das curadoras foi 1968, ano da Primavera de Praga e da Primavera Marcelista, “momentos relevantes de esperança numa reforma política que resultaram malogrados, com particular coação em Praga”.
“Pese embora os contrastes e paradoxos, as revoluções em causa têm em comum o facto de representarem movimentos de mobilização das populações locais na luta e vitória contra regimes totalitários, na defesa da implantação da democracia”, sublinham.
Os anos de 1974 e 1989 marcam as datas das duas revoluções que permitiram de forma pacífica conquistar a liberdade, a Revolução dos Cravos ocorrida em 25 de Abril de 1974, que serviu de inspiração para a Revolução de Veludo na Checoslováquia, a qual teve lugar mais tarde, a 17 de novembro de 1989.
O projeto expositivo integra também uma cronologia comparativa e ilustrada com factos históricos, documentação, e iconografia: fotografias, artigos de jornais, cartazes, livros, manuscritos, imagens em movimento de pequenos vídeos ou excertos televisivos, registos áudio de canções.
Nesta cronologia são dadas a conhecer situações de relação e interação entre os dois países, como o exílio em Praga de pessoas que fugiram ao regime em Portugal, e uma conversa telefónica entre Mário Soares e Vaclav Havel, em 1989.
Também surge o episódio em que uma delegação de jovens portugueses decidiu deslocar-se a Praga, em dezembro de 1989, para entregar 50.000 rosas aos apoiantes da liberdade e da revolução na Checoslováquia.
Segundo a organização, a conceção do projeto data de 2014, mas por dificuldades de financiamento, o mesmo tem vindo a transitar de ano para ano nos planos de programação das duas entidades, concretizando-se agora com o apoio do Instituto Camões em Praga, Czech TV (que é ‘media partner’), a Embaixada de Portugal na República Checa e da Embaixada da República Checa em Portugal.
Entretanto, o Museu do Chiado solicitou à Direção-Geral do Património Cultural, que tem a tutela dos museus nacionais, “o pedido para apresentação do projeto à ministra da Cultura, [Graça Fonseca] não apenas para que tome conhecimento da dimensão política e cultural do mesmo, das entidades e personalidades envolvidas, mas também com vista à obtenção da chancela ministerial e futura inscrição da inauguração da exposição nas comemorações oficiais do 25 de Abril de 2020″, mas ainda não obteve resposta.
No que respeita à exposição, para além da cedência de obras das coleções do Museu do Chiado e da Galeria da Cidade de Praga, foram solicitados empréstimos de obras de arte e documentação histórica a diversas coleções públicas e privadas da República Checa, da Eslováquia e de Portugal.
Entre elas estão a Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian, Museu Berardo, Caixa Geral de Depósitos, Coleção Secretaria de Estado da Cultura, e alguns privados.
A inauguração de “Cravos e Veludo” está prevista para dia 29 de abril e ficará patente até 29 de setembro de 2019, na Galeria da Cidade de Praga, localizada no segundo piso do edifício da Biblioteca Municipal da capital.
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