O sonho da Junta de Freguesia é ter um projeto sustentável que permita manter a arte da olaria.
A inspiração foi a Casa do Barro, na aldeia de Telhado, no concelho do Fundão, que funciona todos os dias e onde está uma ceramista a tempo inteiro.
“Sonhei trazer o mesmo para aqui. É isso que estamos a cultivar”, confessou Bruno Manuel Sousa, presidente da Junta de Freguesia da Malhada Sorda, que trocou Lisboa pela terra natal da esposa.
O autarca conta que, segundo um trabalho de investigação, na década de 1980 existiam na localidade cerca de 30 oleiros.
Na aldeia ainda hoje há vestígios do bairro onde moravam os oleiros, no Arrabalde de Santo António, onde está o forno privado que aqueles profissionais pagavam para cozer as peças.
Sobraram também as expressões populares que ligam a aldeia ao ofício.
Ter um espaço sem ocupação disponível na aldeia foi meio caminho para arrancar com o projeto.
Havia um edifício desocupado há mais de 20 anos, construído com financiamento da Europa para ser oficina escola de olaria, mas que nunca chegou a funcionar.
A prioridade da Junta foi dar início à formação na área da olaria e conseguiu que o Centro de Formação Profissional para o Artesanato (CEART) se associasse ao projeto.
A formação arrancou em setembro com cerca de 20 pessoas.
No grupo está Maria Conceição Silva, de 58 anos, sobrinha neta de quem trabalhava o barro.
“Eu ainda era garota, mas lembro-me dela a fazer os cântaros. Ela morava no arrabalde de santo António. Ajeitava as saias muito rodadas que usava nas pernas em jeito de calções para fazer os cântaros na roda”, relata.
Recorda que as pessoas iam buscar giestas com os burros para fazer fogo no forno e, depois de cozidas as peças, “andavam pelo mundo a vendê-las”.
Agora quis participar na formação para dar continuidade ao que faziam os antigos e preservar “a memória da gente”.
Estão planeadas novas formações, para novos grupos e para aprofundar os conhecimentos dos que estão agora a terminar a iniciação.
“Queremos continuar na iniciação da olaria e trazer gente nova. Este primeiro grupo teve de ser convencido do nada. Houve algum ceticismo”, admite Bruno Manuel Sousa.
Para ganhar dimensão e visibilidade ao projeto a Junta de Freguesia candidatou-se a um programa no âmbito do ERASMUS para formação adulta, numa parceria com entidades espanholas e francesas.
O presidente da Junta admite que é uma candidatura “muito ousada e difícil de ganhar”.
Se a candidatura for aprovada será um projeto para 18 meses que vai permitir levar 10 formandos da Malhada Sorda a Espanha e a França para partilhar as experiências.
O formador que tem acompanhado “O Atelier dos Louceiros” desde início ficou rendido ao projeto de Malhada Sorda.
Alberto Azevedo é formador há 30 anos e tem uma empresa em Guimarães. “Vou para onde for desde que o projeto seja aliciante para a divulgação e promoção da cerâmica”, sustenta.
Admite que ficou motivado com o projeto que Bruno Manuel Sousa lhe apresentou e evidencia a mais-valia da parceria e intercâmbio com Espanha e França.
Alberto Azevedo diz ter encontrado na Malhada Sorda pessoas que “vinham à descoberta”, mas salienta que há gente no grupo “capaz de seguir o projeto”.
“É um grupo que vem muito por amor à causa”, assinala.
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