O filme, que teve estreia na última edição do Festival Internacional de Berlim, Berlinale, está nomeado em onze categorias, entre elas “Melhor Filme” e “Melhor Realização” (Burhan Qurbani).

Welket Bungué já tinha estado na corrida ao Urso de Prata para melhor ator na Berlinale por isso, de certa forma, já esperava que o filme recebesse alguma atenção por parte da Academia Alemã de Cinema.

“Fomos muito bem recebidos na Berlinale (…) mas é claro que é surpreendente que o ‘Berlin Alexanderplatz’ tenha onze nomeações porque se produziram muito bons trabalhos na Alemanha no ano passado”, partilhou com a agência Lusa.

“As reações foram muito positivas, isto significa muito para a nossa equipa. Eles arriscaram muito ao retratar ‘Berlin Alexanderplatz’ sob esta perspetiva nova, dando o protagonismo a um afrodescendente que entra na Europa clandestinamente, e que quer manter os seus valores num território que não o favorece, ou não proporciona essa possibilidade. Pelo contrário”, contou Welket Bungué.

O ator e realizador trabalha em Berlim desde 2016, e mudou-se para a capital alemã em novembro do ano passado. Em Portugal estreou-se há mais de dez anos nas séries “Equador” e “Morangos com Açúcar”.

“Ainda não houve um impacto decisivo que me permita dizer que há um antes e um depois de ‘Berlin Alexanderplatz’. Mas ter este filme no repertório vai ser muito relevante, não só por questões curriculares, mas também tendo em conta tudo o que aprendi”, confessou.

O papel, em inglês e alemão, foi um “grande desafio” que o obrigou, não só a aprender a língua, como também a “absorver grande parte da cultura”, o que o “amadureceu” aos níveis profissional e pessoal.

Atualmente, o foco do ator está sobretudo no cinema internacional, “pelo menos até surgirem oportunidades relevantes no panorama português”.

“De Portugal o reconhecimento tem chegado. No último ano tive curtas-metragens minhas em dois festivais de cinema importantes. Tive ‘Arriaga’ a estrear-se no IndieLisboa e ‘Eu não sou Pilatus’ a estrear-se no Doclisboa, como sendo o único português na competição internacional”, revelou.

Ainda assim, admite que ainda não surgiram “convites relevantes” em que possa trabalhar “em toda a dimensão” da sua qualidade artística.

“Estou à espera e confiante de que isso poderá surgir a médio e longo prazo”, admitiu, adiantando estar a trabalhar nesta altura na finalização de duas curtas-metragens, “Bustgate” e “Treino Periférico”.

“‘Bustgate’ é um documentário experimental e está altamente inspirado na situação terrível e controversa que foi a violência policial que aconteceu no inicio deste ano, na Amadora, contra a cidadã Cláudia Simões. Também é uma homenagem ao Luís Giovani Rodrigues, o estudante cabo-verdiano que foi brutalmente espancado no final de 2019, em Bragança”, contou Welket Bungué.

O ator luso-guineense, que se encontra nesta altura no Rio de Janeiro, acrescenta outros projetos que tem em curso e que estão a ser pós-produzidos no Brasil, como “Pedro” (de Laís Bodanzky) e “A Matéria Noturna” (de Bernard Leça).