Quando o sol de Portugal brilha em Paris, não é só no que diz respeito ao turismo ou à afirmação das empresas portuguesas na capital francesa. A literatura também fez parte da ação conjunta "Sous le soleil du Portugal" entre os armazéns BHV, localizados no centro de Paris, e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), trazendo assim à livraria desta grande loja autores portugueses.
"Esta parceria, que teve como objetivo dar mais relevo aos livros de autores portugueses, mas também sobre aspetos da cultura portuguesa como a gastronomia, funcionou porque a qualidade da literatura portuguesa é reconhecida em todo o mundo, sobretudo através de [Fernando] Pessoa. O 'Livro do Desassossego' vendeu-se bem, assim como o prémio Nobel, José Saramago. A nossa oferta, por ser alargada permitiu tocar todos os nossos clientes, e apostámos nas edições de bolso", afirmou Pascal Pannetier, que dirige a livraria do BHV, em declarações à agência Lusa.
Assim, esta tarde, os escritores Lídia Jorge e Valério Romão e a fotógrafa Sandra Rocha estiveram presentes num espaço dedicado às dedicatórias, partilhando o seu percurso e falando sobre a sua obra.
Lídia Jorge, apresentada como uma das mais importantes escritoras europeias do nosso tempo, é editada em França pelas edições Métailié e conta com vários títulos traduzidos. Para esta autora, escrever em português adiciona uma outra dimensão a todos os autores lusófonos.
"Acho que os autores portugueses beneficiam de uma coisa qualquer diferente na língua portuguesa. Quando um livro meu é traduzido em francês tem menos páginas e em inglês ainda menos. E são, evidentemente, línguas com mais palavras do que o português, mas nós temos uma riqueza maior ao juntar as palavras. Ao mesmo tempo, temos uma construção da língua que é litúrgica, não temos medo de falar do nada nem das repetições", explicou a autora portuguesa à plateia.
Já Valério Romão, autor nascido em França e que foi viver na infância para Portugal, é editado em terras gaulesas pelas edições Chandeigne e diz ter feito as pazes com os dois países.
"Até aos 10 anos, nunca me senti francês em França, porque era português e, quando fui para Portugal, não me sentia português porque vinha de França. Foi só na adolescência que fiz as minhas pazes com Portugal e fiz a paz com França quando voltei aqui com os meus livros e fui muito bem acolhido. Portugal é a minha casa, mas França foi ganhando o meu coração", disse o autor.
Tanto Lídia Jorge como Valério Romão vão lançar novos livros para a 'rentrée' literária em França. Da escritora sairá "Estuaire" ("Estuário", no original) e de Romão será a vez de "Les eaux de Joana" ("O da Joana").
Sandra Rocha marcou presença com o livro de fotografias e colagens "La Vie immédiate", das edições Loco. A fotógrafa portuguesa, radicada em França, seguiu a interceção entre os rios Marne e Sena, dando-se conta de que as cidades na periferia de Paris se esvaziavam durante os dias de semana, sendo necessário 'popular' essas imagens com colagens.
"Os livros são sempre um projeto em si e dá uma nova maneira de fazer o 'mise en scene', diferente das exposições. [...] A ideia inicial era mostrar como as pessoas, tal como os rios, também se misturam, e ficava neste universo da água e dos jovens. Há uma escola que me acolhe ao pé da Marne e queria fotografar pessoas no rio, mas não havia ninguém. Só lugares vazios porque, durante o dia, as pessoas trabalham em Paris. E é assim que as colagens aparecem", explicou a fotógrafa.
Sandra Rocha vai estar a partir de 12 de julho no Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores, com uma exposição, tendo também já uma mostra agendda para o próximo ano no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.
Até terça-feira, 25 de junho, Portugal é o país convidado dos armazéns BHV, vendendo várias marcas portuguesas e dedicando espaços comerciais à divulgação do turismo português.
Comentários